quinta-feira, novembro 27, 2008
Como eu penso - ainda imatura!
A meu ver, a “preguiça intelectual” vai além de uma preguiça em ler livros, escrever resenhas, apresentar seminários e estar sempre em dia com o plano de trabalho a se seguir para um determinado projeto. Ela está em não se dispor a pensar.
Julgo sempre mais cômodo – ainda que muito frustrante - aceitar seguir caminhos mais óbvios, já desbravados e livres de olhares tortos. Ir na direção contrária é sempre mais doloroso, e não apenas por razões externas, como preconceitos ou discordâncias. Ao contrário: o que mais pesa são os obstáculos interiores. É a preguiça de continuar pensando!
Na última reflexão eu trouxe um pouco da minha aflição de sempre estar pensando. Entretanto, ainda mais agonizante que o constante “estado pensante” é perceber que muitas são as vezes em que tenho de deixar de lado certas opiniões, complicações, dúvidas, indagações, empecilhos e pedras no caminho em prol de um consenso – que à noite, com a cabeça no travesseiro, percebo fajuto.
Explico: são cada vez mais constantes as abdicações de um debate aprofundado em busca de um suposto consenso, com a justificativa de que esse debate atravanca ações. Alguns defendem que quanto mais se sabe, menos se faz, pois alguns empecilhos colocados nunca seriam levantados por ignorantes stricto sensu.
Não defendo um debate por debate, mas muita ação não é sinônimo de bons resultados. Ações impensadas e espontâneas certamente podem dar certo. Muitas, contudo, são as que não dão – e isso poderia ser evitado com mais reflexão e debate acerca do assunto. O debate necessariamente deve conduzir a uma ação em um determinado momento. Essa ação, porém, deve ser precedida de uma discussão profunda. Uma vez trazida à tona a complexidade de cada questão, é provável que ela jamais se esgote, mas um mínimo de debate já seria suficiente para estimular reflexões até mesmo simultâneas à ação desenvolvida, que ainda que não fosse perfeita, seria no mínimo crítica.
Muitas vezes dou lugar à preguiça de debater e expor minhas idéias, construindo argumentos fortes e fundamentados... que serão, eventualmente, refutados. Curiosamente não é uma possível (e provável) refutação que me desestimula a seguir com o debate. São os olhares e discursos criticamente apáticos de quem repudia a constante discussão; não por ser favorecido pelo status quo, mas por deliberadamente não enxergar nenhum problema nele.
Deparada com essas resistentes barreiras, muitas vezes simplesmente desisto. Ainda mais difícil que dialogar com aqueles de idéias divergentes, é se relacionar com quem nem sequer idéias tem – e não está minimamente interessado em desenvolvê-las. Aí entra outra preguiça: a de mostrar à outra pessoa o quanto esse debate, essas idéias são necessários. Muitas vezes a pessoa não assimila isso, e eu ainda me sinto como se fosse uma catequizadora, encarregada de trazer a luz aos cegos de Platão! O conflito desloca-se então do debate sobre a ação para um debate sobre a necessidade de se debater, que atrasa ainda mais qualquer resultado almejado.
Essa idéia de detentora da verdade me incomoda, como coloquei na última reflexão. Contudo, não consigo pensar e agir de outra forma que não seja através de discussões e do debate de idéias. A partir dessas reflexões cheguei então a uma conclusão que vai me servir como ponto de partida. Minhas idéias certamente não são superiores às alheias, nem eu tenho as respostas do que é certo ou errado, melhor ou pior – se é que essas respostas existem - em mim mesma. Ainda assim, uma coisa é certa: fechar-se ao debate é uma postura equivocada. Então, por mais que eu tenha pré-concepções internas, estou aberta a confronta-las e, quem sabe, muda-las. Não estou certa, nem errada, apenas pensando. E aprendendo.
domingo, novembro 16, 2008
Como eu penso - Versão imatura
- “A gente não consegue parar de pensar nunca!” ele falou, como se tivesse feito a maior descoberta de sua nada longa existência.
- “Lógico que consegue!”
- “Lógico que não! Quer ver? Tenta parar de pensar”.
Contudo, a não ser que você tenha atingido o Nirvana ou outra forma de profundo controle mental, percebe a impossibilidade de imediato. Involuntariamente começa a pensar em como não pensar e se pega pensando “eu não posso pensar, eu não vou pensar, agora – por exemplo – eu não estou pensando! Quer dizer, se eu acabei de dizer isso, na verdade estou... e agora?”
Apesar de desesperador, tal constatação me fez pensar nos meus pensamentos. Até então, nem sequer pensava neles, simplesmente pensava. A partir daquele momento, porém, sempre que pensava tentava entender porque assim pensava. Mas a própria forma como se dava a reflexão sobre o porquê de pensar daquela maneira desencadeava outro pensamento sobre o pensar.
Entrava então em um estado de profunda agonia, até conseguir me esquecer de lembrar de pensar naquele ato de pensar. Enquanto não me esquecia, tentava analisar criticamente os pensamentos. Por que pensava daquele jeito? Por que pensava aquilo? Como não pensar aquilo daquele jeito?
Por vezes era autoconfrontada a pensamentos incômodos, os quais eu mesma julgava irem de encontro ao que acreditava ser certo pensar. Pensava então: o que faz algo ser certo de pensar? Intuitivamente sabia serem valores intrínsecos a mim – e que poderiam revelar-se fajutos eventualmente – os quais me guiavam naquela direção. Estava iniciada a crise de identidade: até que ponto minha forma de pensar era mais correta que alguma alheia, e por que eu cismava em me achar mais correta, ainda que não quisesse achá-lo.
Sempre soube – talvez não desde os nove anos, mas há um bom tempo – que valores pessoais, morais ou institucionais não são parâmetro para se julgar uma ou outra forma de pensamento. Mas caía (e ainda caio, me estatelo na verdade!) no dilema: ainda que respeite outras visões, como respeitar inclusive aquelas que rechaçam as minhas? Ou ainda às vezes, por que respeitá-las? É possível respeitar a liberdade e propriedade intelectual daqueles que lhe desrespeitam?
Poderia dizer que sim, mas penso que não. Apesar de algo me dizer que deveria pensar que sim. É muito difícil achar limites para máximas como “respeito é fundamental”, ainda mais sem cair no velho conto da carochinha “sua liberdade termina onde a minha começa”. É bonito, bonito – porém falso. Dentro de minha mente me pego pedindo para acreditar que devo respeitar e aceitar, mas sinto como se na realidade isso não passasse do medíocre pensamento: “coitadinhos, eles não conseguem ver o mundo de verdade”.
Não seria eu a coitadinha, julgando ver o mundo de verdade? Meu ego diz que não, minha consciência diz que sim. E eu penso que ainda pensarei na minha forma de pensar nisso por muito, muito, tempo.
Circular da linha 82 oferece biblioteca itinerante à população
Ela desceu e desapareceu no meio da multidão. Uma semana depois, embarcou novamente naquele ônibus. E trouxe três livros para o cobrador. Eram obras de literatura brasileira. De tanta emoção, o moço engasgou. Levou para casa seu mais novo acervo. Devorou-os. Enquanto lia suas histórias, pensou: "Por que não compartilhar isso com outras pessoas?" E ele teve uma grande idéia: levaria os livros para o ônibus e assim incentivaria outras pessoas a ler também. Antes, muito antes, ele pensou em montar uma biblioteca em Sobradinho II, onde mora. Seria um espaço de leitura e pesquisa para quem quisesse chegar. Desistiu pela completa falta de apoio e nenhuma condição financeira.
Sem ter uma biblioteca fixa, resolveu que ela seria itinerante. Juntou as 10 obras que tinha em casa, colocou numa sacola e partiu para o ônibus onde trabalhava, um circular em Sobradinho II. Ali, a idéia se espalhou. Numa caixa de papelão perto da roleta, ele colocou os livros. E um cartaz: Projeto Cultura no Ônibus. Ninguém entendeu nada. "É pra pagar?", perguntavam alguns. Não era pra pagar. Era pra ler, pegar emprestado, com o compromisso de devolver, e pegar mais. Tantas vezes quisesse. Incansavelmente, ele explicou sua idéia para os passageiros da sua linha. E pedia doação. Quem tivesse algum livro em casa, e não mais quisesse, ele aceitaria.
A novidade se espalhou. Em poucos meses, havia centenas. De todos os tipos, gêneros, gostos. Até gibis. E o povo começou a ler, levar para casa, trocar. Falar de poesia, comentar sobre histórias. Nem a confusão do ônibus lotado tirou a vontade de ler dos passageiros. A linha de Antônio tornou-se a mais disputada do pedaço. Há sete meses, porém, o cobrador foi transferido para a linha 82, que parte do Núcleo Bandeirante com destino ao Setor de Abastecimento e Armazenagem Norte (Saan). Ali, recontou sua história. E mais livros chegaram. A casa modesta onde mora de aluguel com a mulher, filho e uma enteada não coube mais tanta coisa. Ele teve que alugar um barraco para guardar o acervo que não parava de chegar. Todo mês, desembolsa R$ 120, do salário de R$ 569, para pagar o aluguel do lugar onde está seu tesouro. Hoje são mais de 4 mil livros.
Feito de sonho
Na nova linha, o cobrador Antônio da Conceição Ferreira, maranhense de 36 anos e há 13 morando no DF, teve mais uma boa idéia. Deixaria as obras mais visíveis, para que o passageiro pudesse vê-las melhor. Não perdeu tempo. Foi a uma banca de jornal da Rodoviária do Plano Piloto e pediu a uma funcionária que lhe desse um porta-jornais de plástico. Contou o que pretendia fazer. Saiu dali com cara de menino que ganha presente de Natal.
No dia seguinte, levou o porta-jornais para sua biblioteca ambulante. E o pendurou depois da roleta, logo atrás do validador de cartões eletrônicos. E o anúncio, numa folha A4, impressa em computador, o nome do seu projeto. O povo que ainda não conhecia a intenção do cobrador se indagava: "O que seria aquilo?" Outros se aproximavam. E ele explicava tudo mais uma vez. Aos poucos, as pessoas foram entendendo. E descobriram que não precisariam pagar nada para ler livros, trocados todo dia. A disputa foi grande. As viagens nunca foram tão concorridas. A linha 82 virou atração. Há quem a espere com ansiedade.
Quem pega o livro assina uma ficha, que vira o cadastro. Lá, consta o nome do leitor e o telefone. Nada mais. Prazo de devolução? "Varia de acordo com a capacidade de leitura de cada um", ele explica. Em um ano, não mais que 10 livros deixaram de ser devolvidos. "Jamais vou deixar de levar meu projeto pra frente porque um ou outro não devolveu. Os honestos não podem pagar pelos não honestos", reflete o cobrador — filho de um lavrador e uma catadora de coco babuçu. Antônio deixou os confins do Maranhão atrás de um sonho: estudar e "ser alguém na vida".
Aqui, entretanto, por causa das dificuldades financeiras, ele ainda não conseguiu terminar o ensino médio. Precisou trabalhar para sobreviver. Foi auxiliar de serviços gerais, balconista, vendedor e, há 8 anos, virou cobrador. Levou o desejo de estudar para dentro do ônibus. Realiza-se quando observa um passageiro extasiado com seus livros. "Quem lê tem uma visão mais crítica das coisas, do mundo e da vida. Aí, se liberta", ele filosofa. E, assim, durante seis horas e meia por dia, seis dias por semana, faz o que mais gosta: leva conhecimento a quem, na maioria das vezes, não teria condições de comprar um livro.
Início da tarde de sexta-feira, 12h40. O Correio acompanhou uma viagem da linha 82. Nela, o cobrador Antônio e o motorista Aurélio Marcos Araújo, 35. Saída: Terminal Rodoviário do Núcleo Bandeirante. Destino: Saan. Tempo total da viagem completa: 1h30. E vamos nós. Logo na Metropolitana, bairro próximo ao terminal, sobem mãe e filha. Ambas passam na roleta. Sentam-se atrás do porta-livros. Larissa, de 7 anos , vê uma revistinha da Mônica. Não se contém. Vai até a biblioteca e pega o gibi. Encanta-se com a historinha. A mãe, Renata Oliveira, 25, elogia a idéia do cobrador: "Ajuda a viagem passar logo".
E o ônibus segue. Chega à Candangolândia. Francisca Santos, 28, entra. Auxiliar de serviços gerais numa empresa do Saan, a moça estava ansiosa para pegar aquela linha. E havia motivo especial. Na quarta-feira, pediu ao cobrador que lhe arrumasse um bom romance. Antônio foi ao seu acervo e trouxe Momentos de encanto, de Helen Bianchin. Francisca passará todo o fim de semana lendo. "Ele (Antônio) faz uma coisa que eu nunca tinha visto igual", avalia. E confessa: "Quando eu pegava o ônibus, só queria dormir. Agora, só penso em ler, ler muito".
Dedicação à cultura
Aniversariante da sexta-feira, a auxiliar de teleatendimento Adriana Leandro, 30, também embarcou na linha 82. E, grata ao cobrador que lhe devolveu o prazer da leitura (em pouco mais de três meses leu oito livros), emocionou-se: "Sou fã desse homem. Ele faz esse trabalho e não ganha nada por isso. Faz pela dedicação à cultura". Naquele dia, Adriana levou Quando é preciso voltar, de Zíbia Gaspareto. "Há um ano procurava por esse livro. Ele conseguiu pra mim. É meu presente de aniversário", comemora a leitora.
O estudante Fernando Augusto Salvador, 17, é grato a Antônio. Morador de Santa Maria, ele desce na Candangolândia para seguir na linha 82, que o leva ao Saan, onde faz estágio. Numa dessas viagens, descobriu os livros do cobrador. Pirou ao encontrar O pagador de promessas, de Dias Gomes. "Adoro ler. Este ano, já li mais de 100 livros. O que esse cara faz não tem preço, ainda mais num país onde quase ninguém lê", elogia Fernando.
E a viagem continua. O tempo urge. Uns entram, outros descem. A vida sacoleja. Mas a biblioteca sobre rodas está ali, à espera de um leitor. De alguém que possa sonhar por meio de letras. Assistindo a tanta catarse, a tantos renascimentos, Antônio admite, com os olhos marejados: "Esse é o meu sonho. Ver todo mundo lendo, pensando melhor. Queria poder colocar livros em todos os ônibus do DF". E planeja, convicto: "Ano que vem, vou voltar aos meus estudos. Em 2010, se Deus quiser, pretendo entrar na faculdade de biblioteconomia, da UnB". Tem gente que passa pela vida. Há outros que edificam, transformam, realizam sonhos e são capazes de renascer. O cobrador que encheu um ônibus de livros e tem ajudado a mudar a vida das pessoas faz parte da segunda categoria.
Por uma causa
Quem puder doar livros e ajudar Antônio no projeto cultural pode ligar para 9195-5023.
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Notícia emocionante. Às vezes a gente coloca tanto empecilho na frente de alguns projetos e ações, enquanto pessoas despretenciosas começam com pequenas coisas e fazem toda a diferença... Fica de exemplo e inspiração.
quinta-feira, novembro 13, 2008
Letting go
Why does it always have to be a matter of letting go, huh? Well, I say "Let'em come" instead. Not that it helps - far from that, actually - but it sure makes me feel alive, rather than "numbly frustraded" slash alienated.
terça-feira, novembro 11, 2008
Tudo por uma noite na terra do nunca!
sábado, novembro 01, 2008
por Paulo Leminski
domingo, outubro 26, 2008
Eleições 2008
se escolheu Kassab,
agora é ir aguentando...
relaxando e gozando!
Por no mínimo quatro anos;
ou enquanto o DEMônio durar.
Panquecas
Na primeira vez, você prepara uma receita dupla para ir experimentando, na certeza de que pelo menos metade vai se perder. Depois de bater todos os ingredientes no liquidificador - na dúvida cruel se o sal a gosto está mais a gosto ou mais a desgosto - você se diz: "quer dizer que agora é só fritar?!".
Queimado engano. Há toda uma técnica por detrás do movimento "despeja concha na frigideira anti-aderente presente da amiga querida + espera bordas estarem secas e bolhas aparecerem no meio + vire a panqueca + está deliciosa, prontinha pra servir".
Você despeja uma concha cheia. Acha que não é suficiente, bota um pouco mais. Passam dois minutos e, apesar das bordas sequinhas e incontáveis bolhas, a panqueca parece não querer desgrudar. Você tenta um pouquinho, com uma delicadeza contestável. A panqueca quebra. Não tem volta. Bota no prato, tenta juntar, não dá jeito.
Passa à segunda concha. Dessa vez pinga uma gota de óleo na frigideira, como quem não quer nada. "Agora ela solta! Já me disseram que a liga com farinha integral é mais difícil mesmo!" E ela até solta um pouquinho. Você se anima. Consegue levantar mas, diacho, ela quebra em vários pedaços molengas impossíveis de se remendar.
Enchida a terceira concha, percebe que se fizer uma camadinha mais fina, ela desprega mais facilmente. A partir daí, tudo fica mais fácil. Uma, duas, três panquecas prontas! Na quarta a segurança já é tanta que você se atreve a ir pro computador enquanto ela frita... ousado atrevimento. Eis uma panqueca queimada.
Depois ainda vêm outras preocupações: recheio, calda, tempo ao forno. Mas é tudo um aprendizado. E, no final, você se depara com quatro panquecas super apetitosas. E um estômago embrulhado. Ah, salgadas ironias do destino. Deixa o tempo passar até que a fome volte. Mais tarde, se delicia com aquele improviso. O resultado é tão bom que você se pega tentando uma receita de bolo de banana!
Incertezas, insegurança, excesso de segurança, ironias, felicidade e recomeços. Um círculo virtuoso. Quase à la Rei Leão e seu ciclo da vida...
quarta-feira, outubro 15, 2008
Cai a noite na cidade.
segunda-feira, outubro 13, 2008
Pague 1, leve 2
Tem coisa melhor que dia dos namorados? Todo mundo apaixonado, e as lojas todas ajudando. Nunca vi tanto "Pague 1, leve 2" na vida. Só tem uma condição: mostrar certificado de feliz para sempre e de namorado presente.
Outro dia fui na creperia e tinha lá, com letras vermelhas e corações múltiplos: "No dia dos namorados venha com seu amor e pague apenas metade do preço!"
Aí eu fui! Ia com um amigo, mas ele arranjou oooutro amigo... e eu acabei indo sozinha. Pensei em comer um daqueles crepes de massa integral, com salada e carne magra, para não engordar muito, né?! Senão, aí é qu'eu nunca arranjo um namorado.
Mas a garçonete me olhou com uma cara de desprezo tão grande, que eu mudei de idéia. Pra quê?! Achei que fosse entrar em depressão. De um lado, casais apaixonados. De outro, maaais casais apaixonados. E na minha frente, uma bomba calórica.
A solução foi olhar para cima e fingir que não estava nem aí. Que era melhor que toda aquela indústria capitalista, que só pensa em vender. Vender corações, ursinhos, chocolates, abraços e amor. Onde é que se vende amor? Me fala que eu vou lá comprar. Agora mesmo! Mas tem que ter garantia infinita de não-enrolação, não-traição, não-chateação... e não-abandono.
Enquanto não acho a loja do amor, me contento com creperias. Fui ao caixa pagar a refeição. Qual não foi minha surpresa, então, quando a mulher quis cobrar a conta toda:
"Um crepe de Strogonoff, mais um de Nutella com morangos e duas Cocas Zero... dá R$26,90." Me assustei.
"Mas moça, e a promoção?!" Adivinha o que a descarada me respondeu:
"É só pros namorados, dona!" Não acreditei. Como assim?! Ainda mais que eu tinha comido tudo em dobro só pra participar...
"Ué, imagina se eu fosse dar crèpe de graça pra todo guloso que vem aqui?!" Céus! Ainda por cima me chamou de gorda. Isso porque eu nem tô tomando refrigerante.. só Coca zero. Ai ai, quanta indelicadeza.
Resolvi deixar pra lá. Já podia sentir os olhares dos casaizinhos grudi-grudi que pairavam sobre mim. Mas também, aprendi minha lição: nunca mais volto naquela creperia! Quer dizer, pelo menos não solteira!
Strong personality
At this time of year, you will become more concerned with personal matters and less with the world at large. You can project yourself with more forcefulness than usual. It is an excellent time for making an impression on others, but you must be careful because you will not be especially sensitive to their needs. For this reason, you may find it difficult to work with others during this transit.
If your efforts to work on projects with others don't seem to get anywhere now, perhaps you should defer them until later. First you should take care of the proper business of this transit, which is to experience yourself in a subjective frame of reference.
You have a great need to express yourself now, and it is a valid need. No purpose will be served by denying all your own needs in favor of a misguided concept of duty."
Nem todo horóscopo é feito por sorteio pro jornal do dia.
domingo, outubro 05, 2008
A Inclusão Social na segurança do jornalista
Estudo de caso: Seqüestro dos jornalistas de “O Dia”, em 14/05/2008
A reportagem seria um estouro: depois de duas semanas inseridos no dia-a-dia da favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a repórter, o fotógrafo e o motorista do jornal O Dia tinham material suficiente para delatar a atuação corrupta e ditatorial da milícia controladora daquela favela.
Em apenas sete horas, a reviravolta. Os jornalistas passaram de heróis da notícia a vítimas da Barbárie por eles tanto criticada. Tortura, abuso de autoridade e humilhação foram as armas que os “bandidos que usam farda nas horas vagas”[1] empregaram contra a informação. O Sindicato dos Jornalistas classifica a violência como “um dos mais graves atentados à liberdade de informação”. O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, aconselha a redução da cobertura das favelas cariocas. Tal redução implicaria em conseqüências bastante delicadas: não seria a violência resultado da marginalização proporcionada pela própria mídia, contra as favelas e periferias? E, assim sendo, uma diminuição da cobertura, ou – em outras palavras - imposição de uma autocensura, não daria continuidade ao círculo vicioso marginalização – violência - marginalização?
Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), coloca que “a missão do jornalista não é morrer, mas não se pode recusar a fazer uma cobertura porque o nosso trabalho é uma atividade de risco. Essa tese de que não se pode cobrir certas áreas significa imposição de autocensura” [2].
Como conciliar, então, a proteção efetiva dos jornalistas e uma cobertura completa de todas as esferas da sociedade? Ou, como coloca o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, como encontrar “um meio de a imprensa cumprir seu papel de informar com responsabilidade garantindo a integridade de seus jornalistas”[3]. Antes de tudo, cabe ressaltar quais os dois principais empecilhos para a uma eventual conciliação: (1) a ausência de interesse comercial na periferia (tanto enquanto público-alvo como valor-midiático), que culmina na falta de cobertura local; (2) e as exceções à regra – apelidadas de “infantaria do jornalismo” – que, sem a menor retaguarda, enfrentam a “missão” [4] de trazer à mídia uma abordagem autônoma e livre da periferia, que difira do estado de “terror e medo” pautado pelo “corporativismo da política, da mídia e da milícia”[5]. Tais exceções, apesar de poderem apresentar resultados heróicos, muitas vezes culminam em tragédias como esta e a de Tim Lopes – a qual completou, coincidentemente, seis anos no dia do ato de repúdio ao seqüestro dos jornalistas de O Dia.
Existem ainda, certamente, aqueles profissionais sedentos por prêmios e grandes furos. Nestes, a busca por reconhecimento e audiência supera escrúpulos e prudência, e qualquer discussão acerca de sua segurança necessitaria outra abordagem. Tratemos apenas daqueles comprometidos com a informação e o interesse público – não necessariamente “do público”.
Medidas como a “instalação de comissões de segurança nas redações, formadas por jornalistas que fiscalizem as medidas de proteção à vida e que avaliem os riscos de cada cobertura”, são velhas reivindicações do Sindicato, “o pior caminho para a imprensa será deixar que a tortura de Realengo atinja o objetivo dos torturadores: calar o jornalismo” [6]. “Para combater o crime organizado, faz-se necessária uma redação organizada”[7]. Esse objetivo só pode ser alcançado quando certos paradoxos forem vencidos: em uma sociedade tecnologicamente avançada como a nossa, onde até cachorros podem ser monitorados, o único impedimento restante à segurança dos jornalistas é o descaso. A famosa falta de interesse econômico.
Falta aos donos e diretores dos meios de comunicação a compreensão desse círculo vicioso: é do interesse da população em todos os âmbitos - economia, segurança, cidadania – que se insiram as camadas marginalizadas na agenda da mídia, e – principalmente – que esse agendamento seja positivo e não reforce ainda mais os estereótipos tradicionalmente transmitidos de criminalidade e pobreza. Somente com inclusão social e a realização de uma política de segurança para os jornalistas empenhados com essa causa, tragédias como a que atingiu os jornalistas do periódico O Dia poderão ser evitadas.
[1] Comunique-se,
[2] O Dia,
[3] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas,
[4]O Dia,
[5] BENTES, Ivana. “Mídia e Política”, Carta Capital,
[6] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas,
[7] Luiz Martins da Silva, Professor da UnB
sexta-feira, julho 04, 2008
O Buraco Do Espelho
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora
quarta-feira, julho 02, 2008
Um sorriso nos lábios
Ponha um sorriso nos lábios
que refrescante sensação de mal estar?
Vidro moído ou areia no café da manhã
e um sorriso nos lábios
Ensopadinho de pedra no almoço e jantar
e um sorriso nos lábios
O sangue, o roubo, a morte, um nego em cada jornal e
um sorriso nos lábios
Noventa e cinco sorrisos suando na condução
e um sorriso nos lábios...
Mas sonha que passa
Ou toma cachaça
Agüenta firme, irmão, na oração
Deus tudo vê e Deus dará
Ou então acha graça
É tão pouca a desgraça
Mas no fim do mês lembra de pagar a prestação
Desse sorriso nos lábios
É
Desse sorriso nos lábios
Pois é
Desse sorriso nos lábios...
O jogo, a nega, a loteca, a fome e o futebol
e um sorriso nos lábios
A taça, a vida, a dureza, viva a beleza do sol
e um sorriso nos lábios
Os olhos fundos sem sono, os corpos como lençol
e um sorriso nos lábios
O cerco, a vida, o circo, silêncio, um medo anormal
e um sorriso nos lábios
Pois o Rio de Janeiro continua lindo
tem um sorriso nos lábios
São Paulo a São Paulo continua indo
é, é
põe um sorriso nos lábios
sorria, sorria
põe um sorriso nos lábios
sorria
a vida é linda
sorria
que a vida é linda
põe um sorriso nos lábios
sorria
põe um sorriso nos lábios
que essa refrescante sensação
põe um sorriso nos lábios
sorria
olha a fo-tô-gra-fi-a
põe um sorriso nos lábios
oh, ponha um sorriso nos lábios
sorria,
a vida é linda demais
sorria
põe um sorriso nos lábios
ah esse sorriso nos lábios
põe um sorriso aí oh
põe um sorriso aí oh meu chapa
sorria.
sexta-feira, junho 13, 2008
Um Tibete acorrentado

A menos de dois meses dos tão aguardados Jogos Olímpicos de Pequim, era de se esperar que os burburinhos girassem em torno dos bilhões de Yuans gastos para convencer o mundo do surgimento de uma nova potência. Graves violações de direitos humanos, como patrocínio de chacinas sudanesas, exploração do campesinato, aplicação de métodos questionáveis no controle de natalidade, e intensa censura poderiam ser apenas detalhes. Mas não foram: o showrnalismo - ora péssimo, ora muito conveniente - não permitiu.
Tudo começou quando Steven Spielberg, com medo de tornar-se uma Leni Riefenstahl moderna, recusou o convite de filmar as olimpíadas. Depois veio a denúncia: para vencer a corrida pelo ouro contra os Estados Unidos, a China adotara sistema exploratório e desumano no treinamento de atletas.
“Desumano”: palavra de impacto. Tanto impacto que foi incorporada por outras reivindicações, em especial pela já quinquagenária luta separatista tibetana. Budistas pacíficos, seguidores de Dalai Lama, arriscaram protestos e sofreram com a violenta represália.“Libertem o Tibet”, “livrem-no dos grilhões chineses”, “afrochem as amarras imperialistas!” foram e continuam sendo entoados. Os gritos de guerra ecoam por toda a parte, inclusive na fotografia. O resultado? Certo realismo com um quê de simbólico, perfeito para o fotojornalismo artístico, saltitante aos olhos e às mentes inquietas.
O grito ecoa, é propagado. Nós ouvimos, fazemos passeatas e, até mesmo, abaixo-assinados. Mas ele não consegue deixar a parede: as correntes não permitem. Os meios de comunicação vão parar detrás das grades. A voz é abafada. O grito é mantido. Enrouquece. Resta saber o que é mais resistente: o metal das grades que começam a enferrujar, ou a força do grito deles, dos gritos nossos.
Gustando.
"Me gustan los aviones, me gustas tu.
Me gusta viajar, me gustas tu.
Me gusta la mañana, me gustas tu.
Me gusta el viento, me gustas tu.
Me gusta soñar, me gustas tu.
Me gusta la mar, me gustas tu.
Que voy a hacer, je ne sais pas.
Que voy a hacer, je ne sais plus.
Que voy a hacer, je suis perdu.
Que horas son, mi corazón.
Me gusta la moto, me gustas tu.
Me gusta correr, me gustas tu.
Me gusta la lluvia, me gustas tu.
Me gusta volver, me gustas tu.
Me gusta marijuana, me gustas tu.
Me gusta colombiana, me gustas tu.
Me gusta la montaña, me gustas tu.
Me gusta la noche, me gustas u.
Que voy a hacer, je ne sais pas.
Que voy a hacer, je ne sais plus.
Que voy a hacer, je suis perdu.
Que horas son, mi corazón."
sexta-feira, maio 30, 2008
Ensina-me a viver
quinta-feira, maio 29, 2008
Indiferença: dos males, o pior.
Edmund Burke
quarta-feira, maio 28, 2008
Roteiro: Monólogo de minha morte
PALHAÇO DECADENTE - Não tão respeitável público! Dizem que os incomodados é que devem se retirar, mas o que é um palhaço sem seu público? Um Bochecha sem seu Claudinho: sou eu assim sem vocês. [Levo o dedo à boca, mostrando o nojo que tenho dessas coisas]
Dizem também que água mole, em pedra dura, tanto bate até que fura. E vocês, fantoches da Zorra Total, transformaram meu pobre coração em uma pedra velha e carcomida. [Voz de descaso] “Foi sem querer querendo”, vocês irão dizer. Sem querer minha presença, e querendo minha morte, digo eu.
Querer nem sempre é poder. Eu, por exemplo, queria ficar neste ingrato picadeiro, mas não posso. Que farei eu agora, a cada manhã, sem o doce cheiro de bosta de elefante? [Cara de nojo para o fedor] Sem o bafo da onça e da bailarina? Sem pêlo de mulher barbada em minha marmita?
À noite, meu dia terá sido incompleto, sem o choro desses pentelhos catarrentos, sem as tortas na cara e, principalmente, sem vossos [Expressão de desconfiança] escassos– porém sempre gratificantes – aplausos. Sim, porque de gratificação, só os aplausos, pois salário já tem pra mais de ano que não sinto o cheiro, nem vejo a cor. Sinto só a fome, o frio e a dor.
E com dor me despeço. Do Circo, e portanto, [pausa com olhar panorâmico e profundo sobre a platéia] da vida.
[Morte simbólica com arminha d’água que atiro sobre mim.]
Por Mel Bleil Gallo e Cecília Alvares Côrrea
domingo, maio 25, 2008
Versinhos 3
Em cima
De ti
Versinhos 2
Um pêlo, um apelo
pêlo a pêlo.
terça-feira, maio 20, 2008
Seja, ao invés de querer ser!
- Bom dia, flor do dia!
- Bom... quê? Você de novo?!
- Ué, nosso aniversário chegou, né.. quer dizer, teu! Eu continuo com meus cinco aninhos.
- É verdade, cê tá igualzinha ao ano passado. Se tivesse com seis, o cabelo já taria de joãozinho, foi quando peguei piolho...
- Isso! Eu me lembro! Foi o ano da primeira visita. Tu levaste um baita d’um susto!
- Também né, onde já se viu? Parece assombração.
- Mas eu não venho te assombrar, Melzinha... Ao contrário, é pra dar uma luz e ter certeza que tu estás no caminho certo.
- Quem dá luz é poste! Ou mãe...
- Há-Há. Nossa, que piada mais velha. Parece você: 20 anos! Eras, é bom que tu tenhas um prato bem recheado de novidades para me oferecer.
- Ih, tá difícil. Assim, não é que o ano não tenha sido produtivo. Ao contrário: minha psicóloga diz que houve muito progresso; a astróloga falou até do fechamento de um ciclo, e a passagem para o conhecimento interior... Parece que júpiter ia entrar em órbita com Vênus, regido por Saturno.
- Nossa, quanto blábláblá, hein? Quero saber se tu conseguiste fazer aquela bola de hum metro de Bubbaloo.
- Ah! Mas já faz uns três anos que eu te disse que não ia dar. Cê sabe que a Lulu falou que um Bubbaloo equivale a uma refeição inteira... Aí não dá, né?! Tenho que ficar de olho no peso.
- Nossa, não acredito! Mas é verdade, eu reparei que tu deste uma engordadinha nesses anos. Parece que todos aqueles sucos sem açúcar, quilos de legume e arroz integral não ajudaram muito. O que o papai acha disso?
- Ele não se conforma, né! Morre de raiva. Mas eu acho é bem feito... Se ele tivesse deixado ter refrigerante nos meus aniversários, não ia ter criado todo esse prazer pelo proibido. Mas não: só deixava entrar aqueles guaranás Globo. Eca.
- É... mas pelo menos casadinho sempre tinha, que a vovó trazia. Aliás, falando em aniversário, e a festa da pequena sereia, quando é que sai?
- Ah, você só pensa em coisas de criança! Mas pra falar a verdade, esse ano ela sai. Eu até comprei as coisinhas: tem chapeuzinho, brinde, docinhos, pipoca, cachorro quente...
- Puxa, que divertido. Pena que eu não possa ficar... E o que mais tu me contas? E a coleção de selos? O medo de altura? Aquele pé de laranja lima? A criação de feijões? A bolsa amarela? O pacto das amigas para sempre? A coletânea de Legião Urbana e Chico Buarque? As listas dos mil mais e mil menos?
- É, na verdade eu dei uma pausa nessas histórias daí.
- Égua! Por quê?
- É que não dá tempo, tem muita coisa pra fazer...
- Que desculpa mais esfarrapada!
- Ah, e você por um acaso tem a mínima idéia de como é acordar todo dia cedo, dormir tarde, e não conseguir esquecer das contas pra pagar, dos trabalhos pra entregar, dos livros pra ler, das dietas pra seguir, dos amores pra esquecer e da família pra amar?
- ...
- É óbvio que não sabe! Com cinco anos a única coisa que você consegue é cortar a franja no meio da testa e fazer papel de ridícula na frente de todo mundo. Ou então quebrar o vaso, remendar com fita durex, e achar que o papai nunca ia reparar.
- Aí é que tu te enganas. Es tu quem não sabes nada. Eu pelo menos sabia ser feliz: tu pareces ter te esquecido. E se fores esperar teres três vezes 20 anos pra aproveitar a vida e realizar aqueles sonhos de moleca... Já não vais mais ter nem os sonhos, nem a moleca dentro de ti.
- Impossível, posso ter apenas duas décadas, mas tenho todo o sentimento do mundo.
- Sentimento não é igual lamento.
- Nem risada igual à felicidade.
- É Verdade. E agora?
- Bom, das duas uma: ou eu rio menos, ou eu choro mais.
- Não! Chore mais e ria mais. Sonhe mais, realize menos. Pense menos, devaneie mais. Seja, ao invés de querer ser.
quarta-feira, maio 07, 2008
Versinhos
Na revolução dos homens,
Tem porco mais homem que muito cabra.
Estatuto do Mundo de Todo Mundo
é o mesmo que se põe acolá,
Que o calor, a sede e a dor dos filhos daqui
é igual a dos filhos de Alá,
de Jesus e também de Iemanjá,
Que aqueles que matam por terra,
na terra só podem chorar,
Pois a Terra é uma só
onde todos devemos morar.
Fica decretado que dessa terra,
juntos devemos cuidar,
De mãos dadas a caminhar,
os carros pra trás iremos deixar;
Subiremos nas árvores para brincar
ao invés de florestas desmatar;
Encheremos o peito de orgulho,
e não de poluição;
Nadaremos nos rios e mares,
Com medo apenas de tubarão
Mas nada de tóxicos ou comichão.
E quando empanturrados,
de tanto comer McGoiabas e BigMuquecas,
Fica decretado que deitaremos nas redes,
sem ar condicionado, mosqueteiro e repelentes,
Apenas com o vento a cantar em nossas mentes.
Fica decretado que o primeiro papel jogado no chão,
O primeiro átomo de poluição,
O primeiro embrulho de Chicabom,
Assim como o segundo, o terceiro e todos os demais que virão
A partir de agora devem recolhidos,
pra sempre temidos,
e nunca esquecidos.
Fica decretado, por fim, que em nossos sonhos não haverá pesadelos
Com ladrões, bombas e explosões,
Nossas tristezas serão apenas com desamores
ou desilusões.
Pois num mundo que é de todo mundo,
Todos amam e reclamam,
Se alguém algum desses decretos,
Esconde debaixo da cama.
quarta-feira, abril 02, 2008
Perfil Musical ♪
Resumindo? A garota de ipanema é uma metamorfose ambulante, uma menina-moça, mommy’s little monster, bohemian like you. She walks like she don’t care, meio desligada, com seus Bette Davis eyes of the bluest skies, um jeitinho de Anna Júlia que foi passear com Lucy in the sky with diamonds. Gosta de uns roqueinrôu e uns ié ié ié, e quando feel heavy metal, ainda que don’t feel like dancing, sempre começa a cantarolar em festas estranhas com gente esquisita, onde se sente só, se sente tão sua, e não sabe porque nessas esquinas vê o seu olhar nem porque can’t stop loving you, Mr. Jones – and she didn’t mind, it’s not her kind to wonder why.
Queria ser forever young, pois a vida é pra viver, a vida é pra levar, mas ela sabe que vai te amar, por toda sua vida vai te amar, my darling clementine. E por isso s'est donné rendez-vous à la place des grands hommes, para uma Dernière Danse, pois il faut toujours partir afin de mieux se retrouver, mesmo que mude, que leve na bolsa umas mentiras pra contar e ache isso uma loucura, ainda está aqui, querendote, e acredita que apesar de você estar so far away she just can’t see, ainda tá pensando em every breath she takes e que, maybe, you’re gonna be the one who saves her, com uma bermuda e cara de mistério – trazendo milk and toast and honey, além de guaraná e suco de caju com goiabada para a sobremesa. Ela não resistirá ao bom e velho bob, que faz sempre parte de seu show e - apesar de você ter um cabelo engraçado, ter cavado um abismo com seus pés e a deixar tão à flor da pele - faz a banda passar, guiada por Tieta Eta Eta, like a rolling stone with no direction home.
Porque o mundo é um moinho, e yo sólo quiero saber do que pode dar certo and save tonight. Então hey ho, let’s go: papai me empresta o carro ou lord buy me a Mercedez Benz, pois vamos fugir, sail away pra somewhere only we know, levando conosco somente all that you can't leave behind, pois todo carnaval tem seu fim, e fica tudo escuro e ninguém te ouve. Mais non, rien de rien, je ne regrette rien, and I don’t wanna go home right now, pois alegria é a melhor coisa que existe, and I had the time of my life, que não foi tempo perdido, e por isso pretendo keep on rocking the free world, com these boots that are made for walking!
♪
segunda-feira, março 31, 2008
Telepatia
e pensamentos impróprios,
impronunciáveis, inconfundíveis, imprestáveis.
Insignificância extrema,
filosofia barata.
Procurando saber o que pensam,
dá uma de gata que é morta pela curiosidade.
Seria mais fácil ler pensamentos,
mas e se fossem também lidos meus próprios lamentos?
Despida de máscaras e proteções,
teria de conviver com a reação verdadeira às minhas verdades,
que por vezes ficam bem mais bonitas sob forma de mentiras,
fugas e frágeis disfarces.
Dói menos a aceitação por aquilo que não se é,
que a recusa pelo que se é.
Mas não muito menos.
domingo, março 30, 2008
Pichações.
Quem faz sentir dor é soldado."
Y Qué?
se me olhas,
se nos olhamos nos olhar.
que olhamos ao pensar?
sexta-feira, fevereiro 29, 2008
He Wishes for the Cloths of Heaven
Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.
sexta-feira, fevereiro 22, 2008
"Maître Puntilla et son valet Matti"
"L'ivresse fuit.
Le quotidien crie:
Qui vaincra?
A quoi bon gaspiller des larmes inutiles,
Pourquoi verser un pleur sous prétexte que l'huile
Jamais ne réussit à se mêler à l'eau:
Il est temps que tes valets te tournent le dos.
Un bon maître, ils en auront un
Dès que chacun sera le sien."
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
"Deseo solo combatir como un soldado de las ideas"
Queridos compatriotas:
Les prometí el pasado viernes 15 de febrero que en la próxima reflexión abordaría un tema de interés para muchos compatriotas. La misma adquiere esta vez forma de mensaje.
Ha llegado el momento de postular y elegir al Consejo de Estado, su Presidente, Vicepresidentes y Secretario.
Desempeñé el honroso cargo de Presidente a lo largo de muchos años. El 15 de febrero de 1976 se aprobó la Constitución Socialista por voto libre, directo y secreto de más del 95% de los ciudadanos con derecho a votar. La primera Asamblea Nacional se constituyó el 2 de diciembre de ese año y eligió el Consejo de Estado y su Presidencia. Antes había ejercido el cargo de Primer Ministro durante casi 18 años. Siempre dispuse de las prerrogativas necesarias para llevar adelante la obra revolucionaria con el apoyo de la inmensa mayoría del pueblo.
Conociendo mi estado crítico de salud, muchos en el exterior pensaban que la renuncia provisional al cargo de Presidente del Consejo de Estado el 31 de julio de 2006, que dejé en manos del Primer Vicepresidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. El propio Raúl, quien adicionalmente ocupa el cargo de Ministro de las F.A.R. por méritos personales, y los demás compañeros de la dirección del Partido y el Estado, fueron renuentes a considerarme apartado de mis cargos a pesar de mi estado precario de salud.
Era incómoda mi posición frente a un adversario que hizo todo lo imaginable por deshacerse de mí y en nada me agradaba complacerlo.
Más adelante pude alcanzar de nuevo el dominio total de mi mente, la posibilidad de leer y meditar mucho, obligado por el reposo. Me acompañaban las fuerzas físicas suficientes para escribir largas horas, las que compartía con la rehabilitación y los programas pertinentes de recuperación. Un elemental sentido común me indicaba que esa actividad estaba a mi alcance. Por otro lado me preocupó siempre, al hablar de mi salud, evitar ilusiones que en el caso de un desenlace adverso, traerían noticias traumáticas a nuestro pueblo en medio de la batalla. Prepararlo para mi ausencia, sicológica y políticamente, era mi primera obligación después de tantos años de lucha. Nunca dejé de señalar que se trataba de una recuperación "no exenta de riesgos".
Mi deseo fue siempre cumplir el deber hasta el último aliento. Es lo que puedo ofrecer.
A mis entrañables compatriotas, que me hicieron el inmenso honor de elegirme en días recientes como miembro del Parlamento, en cuyo seno se deben adoptar acuerdos importantes para el destino de nuestra Revolución, les comunico que no aspiraré ni aceptaré- repito- no aspiraré ni aceptaré, el cargo de Presidente del Consejo de Estado y Comandante en Jefe.
En breves cartas dirigidas a Randy Alonso, Director del programa Mesa Redonda de la Televisión Nacional, que a solicitud mía fueron divulgadas, se incluían discretamente elementos de este mensaje que hoy escribo, y ni siquiera el destinatario de las misivas conocía mi propósito. Tenía confianza en Randy porque lo conocí bien cuando era estudiante universitario de Periodismo, y me reunía casi todas las semanas con los representantes principales de los estudiantes universitarios, de lo que ya era conocido como el interior del país, en la biblioteca de la amplia casa de Kohly, donde se albergaban. Hoy todo el país es una inmensa Universidad.
Párrafos seleccionados de la carta enviada a Randy el 17 de diciembre de 2007:
"Mi más profunda convicción es que las respuestas a los problemas actuales de la sociedad cubana, que posee un promedio educacional cercano a 12 grados, casi un millón de graduados universitarios y la posibilidad real de estudio para sus ciudadanos sin discriminación alguna, requieren más variantes de respuesta para cada problema concreto que las contenidas en un tablero de ajedrez. Ni un solo detalle se puede ignorar, y no se trata de un camino fácil, si es que la inteligencia del ser humano en una sociedad revolucionaria ha de prevalecer sobre sus instintos.
"Mi deber elemental no es aferrarme a cargos, ni mucho menos obstruir el paso a personas más jóvenes, sino aportar experiencias e ideas cuyo modesto valor proviene de la época excepcional que me tocó vivir.
"Pienso como Niemeyer que hay que ser consecuente hasta el final."
Carta del 8 de enero de 2008:
"...Soy decidido partidario del voto unido (un principio que preserva el mérito ignorado). Fue lo que nos permitió evitar las tendencias a copiar lo que venía de los países del antiguo campo socialista, entre ellas el retrato de un candidato único, tan solitario como a la vez tan solidario con Cuba. Respeto mucho aquel primer intento de construir el socialismo, gracias al cual pudimos continuar el camino escogido."
"Tenía muy presente que toda la gloria del mundo cabe en un grano de maíz", reiteraba en aquella carta.
Traicionaría por tanto mi conciencia ocupar una responsabilidad que requiere movilidad y entrega total que no estoy en condiciones físicas de ofrecer. Lo explico sin dramatismo.
Afortunadamente nuestro proceso cuenta todavía con cuadros de la vieja guardia, junto a otros que eran muy jóvenes cuando se inició la primera etapa de la Revolución. Algunos casi niños se incorporaron a los combatientes de las montañas y después, con su heroísmo y sus misiones internacionalistas, llenaron de gloria al país. Cuentan con la autoridad y la experiencia para garantizar el reemplazo. Dispone igualmente nuestro proceso de la generación intermedia que aprendió junto a nosotros los elementos del complejo y casi inaccesible arte de organizar y dirigir una revolución.
El camino siempre será difícil y requerirá el esfuerzo inteligente de todos. Desconfío de las sendas aparentemente fáciles de la apologética, o la autoflagelación como antítesis. Prepararse siempre para la peor de las variantes. Ser tan prudentes en el éxito como firmes en la adversidad es un principio que no puede olvidarse. El adversario a derrotar es sumamente fuerte, pero lo hemos mantenido a raya durante medio siglo.
No me despido de ustedes. Deseo solo combatir como un soldado de las ideas. Seguiré escribiendo bajo el título "Reflexiones del compañero Fidel" . Será un arma más del arsenal con la cual se podrá contar. Tal vez mi voz se escuche. Seré cuidadoso.
Gracias
Fidel Castro Ruz
18 de febrero de 2008
5 y 30 p.m.
(fonte: http://www.granma.cu/espanol/2008/febrero/mar19/mensaje.html)
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
"L'écrivain public"
"Dans mon pays il n'y a pas des registres de décès, parce que officiellement on n'y meurt pas."
Sonhar não tão acordada.
Deveria escrever um livro com a história. Mas não sei se quero compartilha-la... é tão boa. De qualquer forma, a noite já chegou, e quem sabe não tiro a sorte grande e volto a sonhar com o sonho que tenho.
Hmm..
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
As aparências enganam!
Todo mundo já se apaixonou por uma música. Meninas flor-do-campo, então, nem se fala. Com a Carla Bruni, foi algo assim. Ela tava lá, com aquela voz meio rouca, a cantarolar e runrunar sobre "nos chagrins et nos amours"... e eu caí.
Depois você procura conhecer melhor aquela pessoa que ocupa lugar de honra no som - ainda não roubado - do seu carro. E qual minha surpresa ao encontrar nela ideais dignos de uma esquerda solidária e consciente. Fazia propaganda para minhas alunas, ávidas por boas coisas da língua francesa! Junto a Amélie, Les Choristes e Kyo, Carla era minha marca registrada. Ah, era bom demais! Bom demais para ser verdade.
Minha mãe ainda tentou se servir de eufemismos: o gato subiu no muro, o gato vai pular, o gato foi dessa pruma me..... meeeu deus do céu! Casaram! Foi um choque. De beijocas e flashes na Disney, a italianinha passou à Primeira Dama da França. E ao lado de quem? Daquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado.
Não se fazem mais ídolos como antigamente.
sexta-feira, janeiro 04, 2008
E viva a macumba!
Tudo começou hoje à tarde, quando fui trocar um presente de natal. Cheguei à loja, e qual minha surpresa ao descobrir que ela estava em liquidação, fazendo com que pudesse comprar duas peças pelo preço da que tinha ganho.
Logo depois, quando fui às tentadoras Lojas Americanas comprar algum CD em conta para dar de presente de natal, me deparei - ah, momento de grande emoção! - com o DVD do Fabuloso Destino de Amélie Poulain por - veja bem, veja bem! - apenas 12,90. Ah. O êxtase. Nirvana e seu estágio de Ohm atingidos! Um parênteses: me pergunto o que Buda diria de minha espiritualidade, satisfeita com um mero bem material. Ao que responderia, brevemente, que Amélie está longe de ser "um mero bem", quanto menos restrito ao campo material. "C'est la crème de la crème".
Agora, para completar o paraíso astral, só falta o Mr. Darcy bater à minha porta.
Tá, vai, aceito um telefonema.
Idéia de personagem pra livro imaginário 1
Senhora, de meia idade. Carioca. Boa de samba e amiga dos cobradores de ônibus. Boa de papo. Barraqueira. Sorriso malicioso, brincalhão. Eshperta. Negona, com "mechas" descoloridas com água oxigenada. Se bronzeia com o óleo Cenoura e Bronze fator 0,5. Carinhosamente apelidada pelo marido - Seu '....', tipo engraçado, magrelo, grande apreciador do fluminense e das regatas brancas, com manchas de gordura - em razão de seu porte avantajado: bubu, de butijãozinho.
terça-feira, janeiro 01, 2008
Em 2008 os astros não conspiram
Então, pelo sim, pelo não, ontem foi dia de pôr tudo em prática. Depois de ter (re)feito meu mapa astral, vesti calcinha rosa para o amor, vestidinho branco para a paz, pulseira verde pela esperança e sandália dourada pra prosperidade. Comi lichia e brindei champagne. Joguei pro ar (depois de perder um, apenas) dois caroços de romã e li a tal prece dos três magos. E, pra finalizar, dei uma rosa branca pra Iemanjá, e pulei as três ondinhas.
Ainda pra não arriscar, comecei o ano com festa, roda de samba e muita alegria.
Ou seja, se algo der errado a culpa é toda minha, porque dessa vez os astros não têm como (!) conspirar.
segunda-feira, dezembro 31, 2007
Feliz ano velho
de Carlos Drummond de Andrade
"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."
sábado, dezembro 29, 2007
6h22 e o sol nascente.
Lá fora nasce o sol. Ele vai aparecendo, como quem não quer nada, através da persiana escangalhada.
Garganta arde. Cospe e engole o catarro seco, que dói.
Coça os olhos. Maldita lente. Soro acabou e faz três dias que não troca. Precisa de olhos novos.
Computador brilha. Conversas piscam. Vai. Vem. Nem vem que não tem. Borbulhos. Oi. Tudo bem? Tudo bom, e com você? Tudo bom. Que bom. É, é bom. É aqui que a gente diz tchau, até nunca mais? Também não é pra tanto. Ah, diz que é.. ou é ou não é, que não gosto desse negócio de meios atés.. Ah é? Uhum. Então tá. Tá o quê? Tá, ué. Tá até? Tá à toa? Tô na tua.
Ai, tá na minha. Brabuletas e mais bolinhas. Tô com sono. Tá na hora. Vai embora. Vou simbora.
Vim-me embora.
Embora lá fora esteja o mar.
Turista.
- Mas você é turista!
- Como que alguém pode ser turista no lugar onde nasceu?
- Ué, não morando ali.
- Lógico que não! Ser turista vai muito além de uma definição do aurélio!
- Não. Turista é um conceito concreto, definido. Não tem filosofia.
- Tem sim. Você tem o "se sentir turista" em jogo.
- Ah, isso já é muita viagem..
- Mas é sério. Tem lugares que você simplesmente se sente em casa. Às vezes tem turistas dentro de sua própria casa.
- Só que dentro de casa o cara não chega pra você com um "Hola chica! Buenos dias! Cien reales la canga!"
- Ah, ¿Por qué no te callas?
Rimas sentidas
abre a porta.
Enquanto isso no Pará
Ah, seria um desastre completo.. barrigudos como são - com todo aquele tacacá, pato no tucupi, maniçoba, cupuaçu e açaí! Sem contar a cervejinha, muito apreciada pelos frequentadores de plantão da AP, do Parque dos Igarapés, de Mosqueiro ou - haha - do Atalaia.
sexta-feira, dezembro 28, 2007
Barrigudo, porém com classe.
"... e mesmo na atual condição, o Zico não é apenas mais um barrigudo correndo atrás da bola, ele tem sua classe..."
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Um pouquinho de caos
Ao contrário, se não sairmos às ruas, esbarrarmos nas pessoas, ouvirmos ruídos, sentirmos o dia-a-dia alheio e gostarmos, corremos o risco de nos tornarmos verdadeiros alheios.
Alheios sem sal nem simpatia. Alheios de olhar perdido. Alheios que dirigem seus carros mecanicamente, sem nunca ter sentido a dor no calo de andar a pé, ou o abafado e mal-cheiroso ônibus das 18h30, onde todos suados levantam seus braços para se segurarem no ferro.
Alheios que não apreciam o vento no rosto, o cheiro da padaria, a beleza de uma galeria de arte em meio à confusão das pichações. Que não refletem sobre o cansaço alheio, ao entrarem em um metrô e encararem aquelas rugas saltantes aos olhos do indíviduo à frente.
Concordo que nada melhor que acordar com o som dos passarinhos, e dormir ouvindo a cachoeira. Mas nada pior que esquecer o que é ser gente, em meio à gente.
Por isso troco a Brasília plana de Niemeyer, pelo Rio das esquinas e morros.
Mas só por um tempinho.
terça-feira, dezembro 11, 2007
Clube de Leitura Jane Austen
E eu só faço me derreter. Maldita a hora em que entendi que as aspirações românticas de pelo menos 90% da população feminina é condicionada pelo fenômeno das comédias românticas. E todo aquele blá-blá-blá de complitude, amor à primeira vista, finais felizes, mocinho que vai fazer de tudo pra estar com a mocinha - e inclusive enxergar as falcatruas e armações da vilã.
"Eu quero a sina de um artista de cinema
Eu quero a cena onde eu possa brilhar
Um brilho intenso, um desejo, eu quero um beijo
Um beijo imenso, onde eu possa me afogar
(...)
A Patativa do Norte, eu quero a sorte
Eu quero a sorte de um chofer de caminhão
Pra me danar por essa estrada, mundo afora, ir embora
Sem sair do meu lugar"
quarta-feira, dezembro 05, 2007
"Você se esconde atrás dos livros"
Alguns, mais tradicionais, seguem a regra do índice, introdução, desenvolvimento, conclusão, notas, bibliografia, e bate-papo com o autor - espaço especialmente dedicado pra colocar a foto de alguém meio cult, de sorriso ou ar introspectivo, com sua pose espontaneamente forjada. Se fosse uma escritora tomaria muito cuidado com minha foto, mas isso não vem ao caso.
Somente os livros vêm. E vêm aos montes. Nossa, sortudo aquele que não tem ataques compulsivos dentro de um sebo com cheirinho de livros velhos, cheios de histórias e manchas de lágrimas, café, chocolate, chá de jasmim, e colônia alfazema. Ou, então, o que entra em uma Fnac ou Cultura sem vontade de levar (quase) tudo que vê pela frente.
Como há muito não me considero uma pessoa de grande sorte - sim, houve a época áurea em que ganhava promoções do álbum de figurinha da barbie, sorteio de um pacote de arroz e uma pochete na festa de San Genaro, e até mesmo, pasmem vocês, vale-livros no cartão de fidelidade - sou justamente o oposto dos indiferentes a sebos e grandes livrarias.
Assim, como haveria eu de encontrar esconderijo melhor do que atrás dos meus livros? Que lugar, ou até pessoa, seria capaz de me proporcionar momentos de distração como Gabriel García Marquez, de discussões profundas dignas d'Os Pensadores, Jostein Gaardner e Herman Hesse, de risos com Luis Fernando Veríssimo, de lágrimas com Primo Levi e Steinbeck, de paixões com Austen e seu Mr. Darcy, ou Mirian Keynes e a Melancia, de ousadia com Hilda Hilst e a Gabriela de Jorge Amado, de poesia com Quintana e Jorge Luis Borges, de indignação com Galeano e Graciliano, e de nostalgia com Erico Veríssimo?
Duvido até do mais interessante e intenso amor. Da mais bela amizade. Do mais recompensador trabalho. Desafio todos e quaisquer uns. E na falta de cavalheiro disposto a enfrentar os homéricos desafios, sigo cá, escondidinha.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Por aí,
Brasília afora.
domingo, dezembro 02, 2007
Como parecer boba:
Fale como boba,
Aja como boba,
Ria como boba,
Erre como boba,
Chore como boba,
Dê mancadas como boba,
Pense "e se.." como boba,
Grite "putaqueopariu" como boba,
Devaneie como boba,
Maqueie-se como boba,
Trave como boba,
Cultive feijõezinhos como boba,
Tenha medo, muito medo, deles não sobreviverem ao sair do copinho,
- como toda boa boba.
Não tem erro: é pura bobagem.
segunda-feira, novembro 26, 2007
De noite na cama.
"De noite na cama, eu fico pensando
Se você me ama ... E quando
Se você me ama, eu fico pensando
De noite na cama ... E quando
De dia eu faço graça
Pra não dar bandeira
Não deixo você ver
De dia o tempo passa como brincadeira
Por longe de você
Por onde você mora
Para e se demora
Por hora não vou ter
Coragem de dizer
Mas há de ver a hora...
Se você for embora
Agora
De noite na cama, eu fico pensando
Se você me ama e quando
Se você me ama, eu fico pensando
De noite na cama e quando."
Rímel de atriz pornô.
Na falta de talento,
fica o vazio das palavras soltas, bobas e bobagens.
Fica um pouco de mim, que perde as estribeiras,
na falta de eiras ou beiras.
E o ciclano que disse "fazer versinho é fácil, poesia só pra poucos".
Por isso fico com a prosa,
guardada a sete chaves,
que é pra mó de ninguém ver,
que nada se tem para ler.
E é assim que rimo,
com rímel de atriz pornô de filme francês anos 50.
Que escorre pelas macãs do rosto,
com lágrimas e calor da cena despudorada,
ao perceber que lá vai, vai lá, com meias palavras mal contadas.
Mal vividas, mal amada.
sexta-feira, novembro 09, 2007
You Turn Me On, I’m a Radio
"If you’re driving into town
With a dark cloud above you
Dial in the number
Who’s bound to love you
Oh honey you turn me on
I’m a radio
I’m a country station
I’m a little bit corny
I’m a wildwood flower
Waving for you
Broadcasting tower
Waving for you
And I’m sending you out
This signal here
I hope you can pick it up
Loud and clear
I know you don’t like weak women
You get bored so quick
And you don’t like strong women
’cause they’re hip to your tricks
It’s been dirty for dirty
Down the line
But you know
I come when you whistle
When you’re loving and kind
But if you’ve got too many doubts
If there’s no good reception for me
Then tune me out, ’cause honey
Who needs the static
It hurts the head
And you wind up cracking
And the day goes dismal
From "breakfast barney"
To the sign-off prayer
What a sorry face you get to wear
I’m going to tell you again now
If you’re still listening there
If you’re driving into town
With a dark cloud above you
Dial in the number
Who’s bound to love you
If you’re lying on the beach
With the transistor going
Kick off the sandflies honey
The love’s still flowing
If your head says forget it
But your heart’s still smoking
Call me at the station
The lines are open
You Turn Me On, I’m A Radio"
quarta-feira, novembro 07, 2007
Sentimento.
Eu sinto.
Sinto muito, desculpe-me. "Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo."
Sinto cólicas. Terrível sentimento.
Sinto outras dores também.
Sinto dor de coração, como já dizia Janis Joplin. Mas é apenas um "heartache, nothing but a heartache."
Sinto vontade de parar de sentir.
Sinto vontades, muitas vontades; vontades de sumir.
Sinto isso talvez por medo. Medo de sentir. Ou raiva. Raiva de ter sentido algo que não faz sentido.
Sinto tanto, por vezes, que nem sinto.
Sinto ora isso, ora aquilo.
Sinto, inclusive, isso E aquilo.
Sinto que devo ir, mas não porque aqui não esteja bom. Nem porque esteja insatisfeita.
Sinto isso pois sinto sono.
Sinto muito, desculpe-me.
Sendo assim, Senhor, dai-me Ave-Marias, dai-me Pai-Nossos, dai-me Prozac. Dai-me nada, tirai-me tudo. Pois sem tudo, nada se sente.
segunda-feira, novembro 05, 2007
takeoffs and landings.
Where would you go?
And would you miss me when you get there?
There's no place that I would rather be
Please don't let me go falling from the sky
The "fasten seatbelt" sign just needs to go out
If only you could be right here by my side
Home wouldn't seem so far from here"
sexta-feira, novembro 02, 2007
O Vento no Fundo do Mar
Entra-se caçando o ar em movimento
vulgo vento
O calor, não se sabe se vem de fora,
dentro,
do tijolo ou do cimento,
do ardor do sentimento.
É calor mas não é tropical
de Carmen Mirana, biquíni e fio-dental.
É calor de deserto:
que agaça, que te caça, e
tua pele abraça,
tua alma cansa,
e te faz entrar na dança
de uma molhada lambança
que traz à lembrança mate limão e
biscoito globo;
areia ardente e mar gelado,
as morenas e os mulatos,
que com seus corpos dourados,
mergulham fora do sol, do abafado;
e ao inspirar do meu ar,
roubam o vento
e o levam
pro fundo do mar.
domingo, outubro 28, 2007
Perfeita Simetria
Eu penso que é você
Toda noite de insônia
Eu penso em te escrever
Pra dizer
Que o teu silêncio me agride
E não me agrada ser
Um calendário do ano passado
Prá dizer que teu crime me cansa
E não compensa entrar na dança
Depois que a música parou
A música parou (Parou!)
Toda vez que toca o telefone
Eu penso que é você
Toda noite de insônia
Eu penso em te escrever
Escrever uma carta definitiva
Que não dê alternativa
Prá quem lê
Te chamar de carta fora do baralho
Descartar, embaralhar você
E fazer você voltar"
sexta-feira, outubro 26, 2007
se isso é assim
assaz, assado,
fica falado -
decretado, esperado:
nada deve ser dito,
agradecido,
pensado,
sentido,
olhado e
amado.
Viva a indiferença!
Mas viva pouco.
segunda-feira, outubro 22, 2007
Beba do samba, bêbado Samba!
disse uma vez, com certa ironia:
“Se lágrima fosse de pedraeu choraria”
Mas eu, Boca, como semrpe perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra
...
Bebadosamba,
Meu bem.
Bebadosamba,
Também. "
segunda-feira, outubro 01, 2007
Fruit de la Passion
terça-feira, setembro 18, 2007
por que estás tão prateada?
foi a lua desta noite,
o sereno da madrugada?
Tenho um sorriso bobo,
parecido com soluço.
Enquanto o caos segue em frente,
com toda a calma do mundo."
segunda-feira, agosto 06, 2007
Ócio.
Ela se diz: finito.
Ele descrê.
Viaja, para o meio do mato - apenas para encontrar-se novamente abandonada aos seus lençóis. Ela não entende como se deixou levar mais essa vez. Jura, porém, ser a última. Assim como já jurara tantas outras vezes. Nem ela acredita mais em suas próprias palavras.
Palavras escritas com pena da mais rara ave, tinta da mais requintada produção e mentira da mais deslavada.
Mentira na qual quer crer. Na qual descrê.
Da qual precisa.
"Oh, se apenas pudesse viver do ócio."
... do ócio haveria de morrer.
quarta-feira, julho 11, 2007
Papicu?
- "Prali?!" pergunta o motorista de taxi, apontando pra esquerda.
- "Sim, ali, na Chevrolet. Daí, desce, e já vira na próxima pra pegar a Andrade Furtado, porque a Otávio Lobo não desce" diz a menina que, alertada sobre o cárater dos taxistas, não pestaneja ao indicar o caminho desconhecido. Repete a fórmula mágica ensinada pela tia. E reza para que não haja contratempos e perguntas embaraçosas.
- "Ih, aqui tá fechado. Esses animais, fecham a rua por tudo quanto é besteira! No outro governo não era assim não. A senhora (!) prefere que pegue a Expressa ou pelo Papicú?" indaga o nada bendito.
- "Ehh.." suspira a menina com ar de mulher, mãe de oito filhos, com a segurança de uma avó. Tem a mão no queixo, uma expressão de quem reflete seriamente os altos e baixos de cada caminho, e um olhar aflito de quem pode pôr tudo a perder. Lembra vagamente que a Expressa é a via que pegou vindo do aeroporto, do oooutro lado. Mas, se ela é lá, imagina onde seria o Papicú?! Em menos de hum segundo passam por sua cabeça os pensamentos mais absurdos, inclusive uma saudade da terra das quadras, lotes, conjuntos, blocos, tesourinhas e pontes. Ruas, pra que as quer.
- "Ah, o que o senhor acha melhor a essa hora? Esse congestionamento.."
- "Olha, não sei! Vou perguntar aqui presse entregador de pizzas!"
Se até ele pergunta, por que não arriscar:
- "Moço, o que é esse tal de Papicú?" ela diz ao sair, com desastre de 12 anos.
- "Mas minha filha?!" ele ri meio debochado "é esse bairro da sua casa!"
- "Ahh, mas isso eu sabia.. é que achei que fosse indígena e tivesse um significado.."
- "Ah, isso eu não sei não senhora!" resmunga o velho meio encabulado.
- "Tá bom. Tenha um bom dia, viu?" sorri a menina, crente que engana até ela mesma com esse ar de gente segura.
- "Preciso de um mapa" se diz ela.
terça-feira, julho 10, 2007
quarta-feira, julho 04, 2007
tá lindo lá fora
Larga a minha mão,
solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão"
Ah, o verão.
quinta-feira, junho 21, 2007
Cheio dum nada.
Mas será que ele é mesmo vazio?
Ou vazia seria eu, por pensar ter algo - ainda que apenas a consciência de não ter nada!
Deve ser deveras mais simples passar pela vida sem sentir, a acordar todo dia de manhã e - antes mesmo de abrir os olhos - já pensar: como fazer pra chegar ao fim do dia sem explodir de sentimentos? Como parar de procurar, nos murais do mundo, um anúncio merecedor de minha atenção? Como não atiçar os ouvidos em busca de algo mais interessante? Como não pensar nesse constante pensar que nos aflige?
Ou, melhor, que me aflige.. afinal, o tal do herói do filme não sente,
sinto muito.
sábado, junho 09, 2007
Sala de Espera da vida.
Wiley: Excuse me.
Soap Opera Woman: Hey. Could we do that again? I know we haven't met, but I don't want to be an ant. You know? I mean, it's like we go through life with our antennas bouncing off one another, continously on ant autopilot, with nothing really human required of us. Stop. Go. Walk here. Drive there. All action basically for survival. All communication simply to keep this ant colony buzzing along in an efficient, polite manner. "Here's your change." "Paper or plastic?' "Credit or debit?" "You want ketchup with that?" I don't want a straw. I want real human moments. I want to see you. I want you to see me. I don't want to give that up. I don't want to be ant, you know?"
E quantas vezes eu já não me prometi experimentar isso, na esperança de encontrar algo mais do que formigas com antenas balançando, vendo tudo passar - embora ciente do fato de que "o maior erro que podemos cometer é achar que estamos acordados quando, na realidade, estamos é dormindo na sala-de-espera da vida!"