segunda-feira, dezembro 31, 2007

Feliz ano velho

Cortar o tempo
de Carlos Drummond de Andrade

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."

sábado, dezembro 29, 2007

6h22 e o sol nascente.

Frio. O braço faz bolinhas de arrepio.
Lá fora nasce o sol. Ele vai aparecendo, como quem não quer nada, através da persiana escangalhada.
Garganta arde. Cospe e engole o catarro seco, que dói.
Coça os olhos. Maldita lente. Soro acabou e faz três dias que não troca. Precisa de olhos novos.
Computador brilha. Conversas piscam. Vai. Vem. Nem vem que não tem. Borbulhos. Oi. Tudo bem? Tudo bom, e com você? Tudo bom. Que bom. É, é bom. É aqui que a gente diz tchau, até nunca mais? Também não é pra tanto. Ah, diz que é.. ou é ou não é, que não gosto desse negócio de meios atés.. Ah é? Uhum. Então tá. Tá o quê? Tá, ué. Tá até? Tá à toa? Tô na tua.
Ai, tá na minha. Brabuletas e mais bolinhas. Tô com sono. Tá na hora. Vai embora. Vou simbora.

Vim-me embora.
Embora lá fora esteja o mar.

Turista.

- Ah, que coisa! Fiquei vermelha demais, agora todos os vendedores vão achar que sou turista.
- Mas você é turista!
- Como que alguém pode ser turista no lugar onde nasceu?
- Ué, não morando ali.
- Lógico que não! Ser turista vai muito além de uma definição do aurélio!
- Não. Turista é um conceito concreto, definido. Não tem filosofia.
- Tem sim. Você tem o "se sentir turista" em jogo.
- Ah, isso já é muita viagem..
- Mas é sério. Tem lugares que você simplesmente se sente em casa. Às vezes tem turistas dentro de sua própria casa.
- Só que dentro de casa o cara não chega pra você com um "Hola chica! Buenos dias! Cien reales la canga!"
- Ah, ¿Por qué no te callas?

Rimas sentidas

Quem se importa,
abre a porta.

Enquanto isso no Pará

Parei pra pensar: e se o Papão também realizasse uma partida comemorativa com os craques de vinte anos atrás?
Ah, seria um desastre completo.. barrigudos como são - com todo aquele tacacá, pato no tucupi, maniçoba, cupuaçu e açaí! Sem contar a cervejinha, muito apreciada pelos frequentadores de plantão da AP, do Parque dos Igarapés, de Mosqueiro ou - haha - do Atalaia.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Barrigudo, porém com classe.

Ápice da grande pelada que foi o Flamengo Vs Amigos do Zico:

"... e mesmo na atual condição, o Zico não é apenas mais um barrigudo correndo atrás da bola, ele tem sua classe..."

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Um pouquinho de caos

Um pouquinho de caos não faz mal a ninguém.

Ao contrário, se não sairmos às ruas, esbarrarmos nas pessoas, ouvirmos ruídos, sentirmos o dia-a-dia alheio e gostarmos, corremos o risco de nos tornarmos verdadeiros alheios.

Alheios sem sal nem simpatia. Alheios de olhar perdido. Alheios que dirigem seus carros mecanicamente, sem nunca ter sentido a dor no calo de andar a pé, ou o abafado e mal-cheiroso ônibus das 18h30, onde todos suados levantam seus braços para se segurarem no ferro.

Alheios que não apreciam o vento no rosto, o cheiro da padaria, a beleza de uma galeria de arte em meio à confusão das pichações. Que não refletem sobre o cansaço alheio, ao entrarem em um metrô e encararem aquelas rugas saltantes aos olhos do indíviduo à frente.

Concordo que nada melhor que acordar com o som dos passarinhos, e dormir ouvindo a cachoeira. Mas nada pior que esquecer o que é ser gente, em meio à gente.

Por isso troco a Brasília plana de Niemeyer, pelo Rio das esquinas e morros.
Mas só por um tempinho.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Clube de Leitura Jane Austen

Falando em livros, eis que surge o filme capaz de retratar parcela considerável dos efeitos-mocinhas surtidos naquela - ou até mesmo naquele! - que se atreve a adentrar o universo dos Mr. Darcys.

E eu só faço me derreter. Maldita a hora em que entendi que as aspirações românticas de pelo menos 90% da população feminina é condicionada pelo fenômeno das comédias românticas. E todo aquele blá-blá-blá de complitude, amor à primeira vista, finais felizes, mocinho que vai fazer de tudo pra estar com a mocinha - e inclusive enxergar as falcatruas e armações da vilã.

"Eu quero a sina de um artista de cinema
Eu quero a cena onde eu possa brilhar
Um brilho intenso, um desejo, eu quero um beijo
Um beijo imenso, onde eu possa me afogar
(...)
A Patativa do Norte, eu quero a sorte
Eu quero a sorte de um chofer de caminhão
Pra me danar por essa estrada, mundo afora, ir embora
Sem sair do meu lugar"

quarta-feira, dezembro 05, 2007

"Você se esconde atrás dos livros"

Livros são sempre tão coerentes. Têm sua capinha - às vezes meio capenga, certo -, e várias páginas. Com letras, rodapés, números nos cantos e de quando em vez até desenhos. Desenhos, veja você! Quanto requinte, quanta arte.
Alguns, mais tradicionais, seguem a regra do índice, introdução, desenvolvimento, conclusão, notas, bibliografia, e bate-papo com o autor - espaço especialmente dedicado pra colocar a foto de alguém meio cult, de sorriso ou ar introspectivo, com sua pose espontaneamente forjada. Se fosse uma escritora tomaria muito cuidado com minha foto, mas isso não vem ao caso.
Somente os livros vêm. E vêm aos montes. Nossa, sortudo aquele que não tem ataques compulsivos dentro de um sebo com cheirinho de livros velhos, cheios de histórias e manchas de lágrimas, café, chocolate, chá de jasmim, e colônia alfazema. Ou, então, o que entra em uma Fnac ou Cultura sem vontade de levar (quase) tudo que vê pela frente.
Como há muito não me considero uma pessoa de grande sorte - sim, houve a época áurea em que ganhava promoções do álbum de figurinha da barbie, sorteio de um pacote de arroz e uma pochete na festa de San Genaro, e até mesmo, pasmem vocês, vale-livros no cartão de fidelidade - sou justamente o oposto dos indiferentes a sebos e grandes livrarias.
Assim, como haveria eu de encontrar esconderijo melhor do que atrás dos meus livros? Que lugar, ou até pessoa, seria capaz de me proporcionar momentos de distração como Gabriel García Marquez, de discussões profundas dignas d'Os Pensadores, Jostein Gaardner e Herman Hesse, de risos com Luis Fernando Veríssimo, de lágrimas com Primo Levi e Steinbeck, de paixões com Austen e seu Mr. Darcy, ou Mirian Keynes e a Melancia, de ousadia com Hilda Hilst e a Gabriela de Jorge Amado, de poesia com Quintana e Jorge Luis Borges, de indignação com Galeano e Graciliano, e de nostalgia com Erico Veríssimo?
Duvido até do mais interessante e intenso amor. Da mais bela amizade. Do mais recompensador trabalho. Desafio todos e quaisquer uns. E na falta de cavalheiro disposto a enfrentar os homéricos desafios, sigo cá, escondidinha.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

domingo, dezembro 02, 2007

Como parecer boba:

Pense como boba,
Fale como boba,
Aja como boba,
Ria como boba,
Erre como boba,
Chore como boba,
Dê mancadas como boba,
Pense "e se.." como boba,
Grite "putaqueopariu" como boba,
Devaneie como boba,
Maqueie-se como boba,
Trave como boba,
Cultive feijõezinhos como boba,
Tenha medo, muito medo, deles não sobreviverem ao sair do copinho,
- como toda boa boba.

Não tem erro: é pura bobagem.