sábado, outubro 15, 2011

Trechos do educador Moacir Gadotti

"Então o analfabetismo é a negação de um direito. O analfabetismo tem a ver com um conjunto do bem viver das pessoas. Imagina agora, chegamos a ter mais de 300 classes de catadores de produtos recicláveis de lixo. Imagina que a pessoa está na rua das 5 horas da manhã até as 7 horas da noite, catando lixo, e às 7 horas da noite vai para uma sala de aula. É muito difícil essa pessoa ter condições, depois de um dia passando fome, de se alfabetizar. Então, as condições sociais são determinantes. Condições sociais de moradia, de trabalho, de emprego, de saúde, fora a educação. A educação não está desligada, não é um problema setorial, é um problema estrutural com os outros condicionantes."

"Vou dar dois pontos onde o atraso continua, em que nós paramos, simplesmente estacionamos: educação de adultos, nós praticamente estacionamos nos analfabetos. E a outra é na creche, de 0 a 4 anos, onde 34% das vagas são pagas e apenas 14 em cada 100 crianças de 0 a 4 têm acesso à creche.

(...) Quando eu vejo que uma mãe trabalhadora, empregada doméstica, sai lá da zona leste pra trabalhar nos Jardins e amarra, acorrenta uma criança de quatro anos e ela é responsabilizada criminalmente por isso, quem deve ser responsabilizado é o Estado. A prefeitura aqui tem 84 mil pedidos de vagas em creche que não são atendidos. É um crime o que se faz com essa criança e com essa mãe. Como é que está uma mãe que vai trabalhar em uma casa, é de chorar isso aí, é de chorar, é de arrepiar. Eu me coloco na pele dessa mãe que deixa uma criança em casa, que não tem onde deixar, ou que deixa com uma outra de sete anos. Essa criança teria que estar na escola, caramba!" (Entrevista a Caros Amigos, fevereiro/2010)



15 de outubro. Dia das educadoras e educadores e, mais do que nunca, dia de lutar pelos 10% do PIB pra nossa educação pública, gratuita, acessível, democrática, inclusiva, crítica, emancipatória e popular!

sexta-feira, outubro 14, 2011

Paulo Freire e a linguagem inclusiva

"É preciso, então, que nós, educadoras - quero dizer aos homens presentes que não duvidem muito da minha virilidade, mas concordem com a minha postura ideológica de rejeição a uma sintaxe machista que pretende convencer as mulheres que dizendo 'nós, os educadores' eu esteja incluindo as mulheres. Não estou. E para provar que quando digo 'nós, os educadores' estou falando só de homens, porque não entro nessa mentira macha, eu agora disse, de propósito, 'nós, as educadoras', para provocar os homens. E espero que eles se sintam incorporados ao 'educadoras' no feminino, para ver como é ruim. Quer dizer, como é ruim não ser mulher. Como é ruim a mulher ser envolvida numa mentira, numa ideologia que pretende explicar sintaticamente, como se a sintaxe não tivesse nada a ver com ideologia - uma falsificação."

Pedagogia dos sonhos possíveis

Na mosca, Paulão!

quarta-feira, outubro 05, 2011

Ah, las calles de Buenos Aires!

"Las calles de Buenos Aires
ya son mi entraña.

No las ávidas calles,
incómodas de turba y de ajetreo,
sino las calles desganadas del barrio,
casi invisibles de habituales,
enternecidas de penumbra y de ocaso
y aquellas más afuera
ajenas de árboles piadosos
donde austeras casitas apenas se aventuran,
abrumadas por inmortales distancias,
a perderse en la honda visión
de cielo y de llanura.

Son para el solitario una promesa
porque millares de almas singulares las pueblan,
únicas ante Dios y en el tiempo
y sin duda preciosas.

Hacia el Oeste, el Norte y el Sur
se han desplegado–y son también la patria–las calles:
ojalá en versos que trazo
estén esas banderas."