terça-feira, novembro 22, 2011

La palida

"Mis certezas desayunan dudas. Y hay días en que me siento extranjero en Montevideo y en cualquier otra parte. En esos días, días sin sol, noches sin luna, ningún lugar es mi lugar y no consigo reconocerme en nada, ni en nadie. Las palabras no se parecen a lo que nombran y ni siquiera se parecen a su propio sonido. Entonces no estoy donde estoy. Dejo mi cuerpo y me voy, lejos, a ninguna parte, y no quiero estar con nadie, ni siquiera conmigo, y no tengo, ni quiero tener, nombre ninguno: entonces pierdo las ganas de llamarme o ser llamado."

Eduardo Galeano

sábado, outubro 15, 2011

Trechos do educador Moacir Gadotti

"Então o analfabetismo é a negação de um direito. O analfabetismo tem a ver com um conjunto do bem viver das pessoas. Imagina agora, chegamos a ter mais de 300 classes de catadores de produtos recicláveis de lixo. Imagina que a pessoa está na rua das 5 horas da manhã até as 7 horas da noite, catando lixo, e às 7 horas da noite vai para uma sala de aula. É muito difícil essa pessoa ter condições, depois de um dia passando fome, de se alfabetizar. Então, as condições sociais são determinantes. Condições sociais de moradia, de trabalho, de emprego, de saúde, fora a educação. A educação não está desligada, não é um problema setorial, é um problema estrutural com os outros condicionantes."

"Vou dar dois pontos onde o atraso continua, em que nós paramos, simplesmente estacionamos: educação de adultos, nós praticamente estacionamos nos analfabetos. E a outra é na creche, de 0 a 4 anos, onde 34% das vagas são pagas e apenas 14 em cada 100 crianças de 0 a 4 têm acesso à creche.

(...) Quando eu vejo que uma mãe trabalhadora, empregada doméstica, sai lá da zona leste pra trabalhar nos Jardins e amarra, acorrenta uma criança de quatro anos e ela é responsabilizada criminalmente por isso, quem deve ser responsabilizado é o Estado. A prefeitura aqui tem 84 mil pedidos de vagas em creche que não são atendidos. É um crime o que se faz com essa criança e com essa mãe. Como é que está uma mãe que vai trabalhar em uma casa, é de chorar isso aí, é de chorar, é de arrepiar. Eu me coloco na pele dessa mãe que deixa uma criança em casa, que não tem onde deixar, ou que deixa com uma outra de sete anos. Essa criança teria que estar na escola, caramba!" (Entrevista a Caros Amigos, fevereiro/2010)



15 de outubro. Dia das educadoras e educadores e, mais do que nunca, dia de lutar pelos 10% do PIB pra nossa educação pública, gratuita, acessível, democrática, inclusiva, crítica, emancipatória e popular!

sexta-feira, outubro 14, 2011

Paulo Freire e a linguagem inclusiva

"É preciso, então, que nós, educadoras - quero dizer aos homens presentes que não duvidem muito da minha virilidade, mas concordem com a minha postura ideológica de rejeição a uma sintaxe machista que pretende convencer as mulheres que dizendo 'nós, os educadores' eu esteja incluindo as mulheres. Não estou. E para provar que quando digo 'nós, os educadores' estou falando só de homens, porque não entro nessa mentira macha, eu agora disse, de propósito, 'nós, as educadoras', para provocar os homens. E espero que eles se sintam incorporados ao 'educadoras' no feminino, para ver como é ruim. Quer dizer, como é ruim não ser mulher. Como é ruim a mulher ser envolvida numa mentira, numa ideologia que pretende explicar sintaticamente, como se a sintaxe não tivesse nada a ver com ideologia - uma falsificação."

Pedagogia dos sonhos possíveis

Na mosca, Paulão!

quarta-feira, outubro 05, 2011

Ah, las calles de Buenos Aires!

"Las calles de Buenos Aires
ya son mi entraña.

No las ávidas calles,
incómodas de turba y de ajetreo,
sino las calles desganadas del barrio,
casi invisibles de habituales,
enternecidas de penumbra y de ocaso
y aquellas más afuera
ajenas de árboles piadosos
donde austeras casitas apenas se aventuran,
abrumadas por inmortales distancias,
a perderse en la honda visión
de cielo y de llanura.

Son para el solitario una promesa
porque millares de almas singulares las pueblan,
únicas ante Dios y en el tiempo
y sin duda preciosas.

Hacia el Oeste, el Norte y el Sur
se han desplegado–y son también la patria–las calles:
ojalá en versos que trazo
estén esas banderas."

quarta-feira, agosto 24, 2011

Saramago e a linguagem inclusiva

Sempre tive minhas dúvidas com a linguagem inclusiva. Se o melhor é o arroba, o xis ou a ênfase nas duas palavras. Seja qual for o melhor método, cada vez mais me convenço de que ela é necessária.

Li recentemente o "Conto da Ilha Desconhecida", do Saramago, e teve um diálogo que me marcou infinitamente... a "mulher da limpeza" diz assim, ao "homem que queria um barco":

"... o filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância."

No fim, acho que é assim que nós, mulheres, sentimos às vezes, né?

domingo, julho 24, 2011

Diário de Escola


“Neste mundo, é preciso ser um pouco bom demais, para sê-lo bastante” Marivaux

Sobre as crianças do mundo

“Existem cinco tipos de criança no nosso planeta hoje: a nossa criança cliente, a criança produtora sob outros céus, mais além a criança soldado, a criança prostituída, e, nos painéis encurvados do metrô, a criança que está morrendo e cuja imagem, periodicamente, debruça sobre a nossa lassidão o olhar da fome e do abandono.

São crianças as cinco.

Manipuladas, as cinco.”

..........

Sobre o aprender (e o ensinar)

“- Ande, você, que sabe tudo sem nada ter aprendido, qual é o meio de ensinar sem estar preparado para isso? Existe um método?
- É o que não falta, só da isso, métodos! Vocês passam o tempo a se refugiar nos métodos, enquanto, no fundo, sabem muito bem que o método não basta. Falta-lhe algo.
- O que é que lhe falta?
- Não posso dizer.
- Por quê?
- É um palavrão.
- Pior do que “empatia”?
- Sem comparação. Uma palavra que você não pode pronunciar numa escola, num liceu, numa faculdade, ou em nada que se assemelhe a isso.
- A saber?
- Não, verdade, não posso...
- Ande, vá!
- Não posso, estou lhe dizendo! Se você soltar essa palavra falando de instrução, vai ser linchado.
- ...
- ...
- ...
- O amor.”


Do fantástico livro "Diário de Escola", de Daniel Pennac. Literatura obrigatória para todos que ensinam, que aprendem, que lutam por uma educação melhor livre de preconceitos e amarras. Por uma escola inovadora, transformadora e, sempre, guiada pelo amor.

quinta-feira, junho 30, 2011

10 centavos


10 centavos, de Cesar Fernando de Oliveira, 2007, 19 min
Um tapa na cara de toda a classe média do país. Nós, que tantas vezes estamos do lado de cá da janela do carro, emburrados por ter que dar algumas moedas ao flanelinha, desta vez nos colocamos na pele negra do cabelo oxigenado, do menino guardador de carros. 

10 centavos, 40 centavos, três reais. Quantias que parecem insignificantes - o troco da balinha, a moeda que caiu e não pegamos de volta – adquirem um valor incrível nas mãos do garoto, que se vira guardando e lavando carros e regando flores. Garantem o seu almoço e a janta do irmão caçula, ao mesmo tempo que desafiam e exaltam a honestidade da criança.

Honestidade que pode até causar surpresa no público, de tão singela e genuína. Inspirado talvez no olhar de Jorge Amado sobre os Capitães de Areia, o filme de Cesar Fernando é um contraste com o retrato criminalizante tão comum dos jovens negros e pobres do Pelourinho e do resto do mundo. Saímos do filme emocionados com a batalha diária desses meninos, mas é insuportável a dor da falta de perspectiva de um futuro melhor. Afinal de contas, lavadores de carro não se aposentam.


Para sentir com os olhos: 10 centavos, de Cesar Fernando de Oliveira

quarta-feira, junho 29, 2011

Flash Happy Society?


Flash Happy Society, Guto Parente, 2009

Uma metonímia. A síntese, em oito minutos, do que representa a nossa sociedade da imagem. No curta completamente experimental, o cineasta mostra como o show - e tantos outros momentos perfeitos para serem aproveitados com amigos, familiares e desconhecidos - perde espaço para a necessidade de se registrar o instante para compartilhar com o mundo, posteriormente.

No universo de câmeras digitais, flashes efêmeros, em cartões de memória infinita, o presente só tem importância se for bem capturado. A música, fim maior de qualquer concerto, é constantemente interrompida pelos flashes. O objetivo passou para o segundo plano. O que importa agora é mostrar para todo mundo que você esteve na festa, com aquelas pessoas e que aproveitou muito. Ainda que não tenha aproveitado nada. Ainda que não se tenha permitido sentir aquele instante, em sua essência.

A crítica, começa já no nome inglês do curta-metragem. “Flash Happy Society”, a sociedade dos estrangeirismos, das aparências, da superficialidade, da falta de originalidade. Será que seremos – ou já estamos! – todos ofuscados por esse flash?!

Descubra também:



sexta-feira, junho 17, 2011

Manifesto da Marcha das Vadias de Brasília






Carta Manifesto da Marcha das Vadias de Brasília – Por que marchamos?
Em Brasília, marchamos porque apenas nos primeiros cinco meses desse ano, foram 283 casos registrados de mulheres estupradas, uma média de duas mulheres estupradas por dia, e sabemos que ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos; marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de transporte público do Distrito Federal, que nos obriga a andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias mulheres que são violentadas ao longo desses caminhos.
No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço; marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento; marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas de vadias porque transamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a um homem, já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos chamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas, já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo tempo, já fomos chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante a Ditadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir enquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos. Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias…todas merecemos respeito!

sexta-feira, maio 20, 2011

Reflexão n°.1

pelo mineiro Murilo Mendes

"Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.


Ainda não estamos habituados com o mundo

Nascer é muito comprido."

segunda-feira, maio 16, 2011

DAS ILUSÕES

"Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!"
por Mário Quintana