terça-feira, dezembro 30, 2008

Sólo un segundo

Por Bacilos


"La recuerdo sin azúcar y sin crema y sin excusas

La recuerdo en la mañana despertándose en mi cama

La recuerdo en la pereza de una rutina que empieza

La recuerdo preocupada por lo que hoy no vale nada


La recuerdo en sus dilemas entre cuentas y poemas

En el ruido de la calle perdida siempre en los detalles

La recuerdo, sin vergüenza

La recuerdo en un segundo en que llego a lo mas profundo"

terça-feira, dezembro 23, 2008

Belém:

açaí
sorvete de pavê de cupuaçu, paraense, mestiço
açaí
maniçoba
farofa
batata palha
acaí com gelo, açúcar e farinha de tapioca

e alguns quilos a mais.
de melzinha a melancia.

Amizade velha de momentos novos

Casa nova na Cidade Velha.

Fachada laranja, corredor comprido
- com janelas nos quartos, que dão para dentro da casa. Na ordem desorganizada Juana, Júlia, Thaís e a amiga do pacto de cuspe - Tia Luísa.
Roger e Tininha - os bichinhos - não têm quarto. Ou melhor, têm todos, entre janelas e ventiladores. Calcinhas, brincos e sutiãs.

As vozes se confundem, as mulheres também.
É tudo igual, problemas, confusões e a amizade.

Dois anos de contexto relatados.
Quatro horas e um pouco da madrugada: mal dão pro começo de uma grande saudade.
Maravilha de risoto!

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Tropeços

Casamento do tio em Búzios, coisas da burguesia.

Família em processo de separação, "é importante estarmos juntos nessas horas", diz a avó por parte de madrasta, "eu e seu avô fizemos as contas e dá pra comprar sua passagem, você vem né? A gente entende se tiver muito ocupada, mas nós queremos muito que você venha", insiste.

Então eu vou, saio na sexta pra voltar terça. Pego um frescão direto pra Copacabana. Maravilha de transporte público, ah se Brasília tivesse um desses. E sigo curtindo o Ipod enquanto passam à minha frente favelas, os Arcos da Lapa, Botafogo, e a Avenida Atlântica. No caminho, ainda ajudo uns turistas franceses. "Francês é foda", reclama um passageiro, "só sabe falar a língua dele e se recusa a aprender inglês, e ainda por cima fica puto quando tu vai ajudar! É foda!"

Desço na Bolívar. São umas 21h30, os bares estão cheios. Bem que Brasília podia ser assim, cerveja com gente bonita e despojada para todo o lado - pra lá da 1h da manhã. "Tem uns barzinhos novos por aqui... esse Espelunca tá com uma cara ótima!". Chego em casa. Aquele abraço na família, papai tá passando pra gente ir jantar.

Vamos a pé mesmo, tudo pertinho. No Espelunca mesmo. Comemos aquela costelinha na entrada, com um molho agridoce fantástico. Rola um sushi no prato principal. Meu pai e meu primo, pra completar, ainda atacam um carneirinho. Estou tranquila, só no choppinho. "Pô, bonzão esse lugar, hein!" finaliza satisfeito meu pai, pouco antes de pagar a conta, não tão boa assim.

No caminho de casa, um tropeço. Um menino, semi-despido, deitado sobre o ventilador de rua. Uma mistura de braços, pernas, mãos, e costelas.

Esta mesma noite minha tia, quando questionada sobre suas impressões iniciais da recente mudança para o Rio de Janeiro, prontamente responde: "Ah, é nojento, cara! Puta que o pariu! Cê sai de manhã e tropeça no moleque que dorme na frente do teu prédio, pô! Rua não é lugar de ninguém dormir não. Me embrulha o estômago, é muito pobre pra todo lado! Lá em Brasília é tudo camuflado, tudo limpinho."

O sushi, o avião, o choppinho... tudo começa a se revirar em meu estômago. Me dá um enjôo da vida; do despudorado exposto, do cruelmente camuflado. Meu pai me oferece seu casaco, não controlo o choro. Como poderia sentir frio enquanto o moleque dorme ao relento, encolhido na esperança de que, menor o corpo, menor o frio?

Lágrimas, náuseas. Uma tremida de indignação, perante apenas mais uma das injustiças do mundo. Meus companheiros, cadê? Na praia, afogando as mágoas nas ondas e na cerveja gelada. O Rio de Janeiro continua lindo. E nojento. É foda!

terça-feira, dezembro 02, 2008

Vivendo do lixo, no lixo

Um breve relato da vida de Dona Luzineide, catadora de lixo e moradora de rua em frente à UnB
*Com o apoio de Murilo Gomes e Pedro

Quem normalmente passa pelo final da via L3 Norte, já se acostumou com a paisagem constante que são os moradores de rua em frente à Colina, área residencial destinada aos professores da Universidade de Brasília (UnB). Carroças, barracos e moscas compõem o quadro nem sempre agradável de se ver, e são freqüentes as reportagens sobre o local. Dona Luzineide, catadora de lixo de 44 anos e aparência jovem, diz já estar "enjoada de tirar fotos".



As matérias na maioria das vezes enfatizam a venda de drogas e os maus-tratos com os cavalos. São superficiais e reforçam o estereótipo marginal dos moradores de rua. "Outro dia veio um menino saber se aqui vendia droga, e eu disse a ele: minha vida já é uma droga. A única droga que tem aqui sou eu", reclama a senhora ao varrer parte do papel que revende a uma empresa de reciclagem, pra debaixo de um plástico e "não molhar demais com a chuva".



Cearense, Luzineide nasceu em Missão Velha, mas não se lembra de nada da cidade natal. Foi muito nova para Juazeiro, na Bahia. De lá veio para Brasília e conheceu o marido, mineiro. “Agora moramos nós dois e uma de minhas filhas aqui, mais a menina dela. Moramos não, vivemos nesse lixo aí... mas lá era ainda pior, era muita miséria, a gente tinha uma roupa só pro ano inteiro. Aqui pelo menos as pessoas doam umas coisas de vez em quando."



Ainda assim, nem no lixo ela tem tranqüilidade. "Já me tiraram várias vezes daqui, mas eu sempre volto. Eles vêm, jogam todas as nossas coisas num caminhão, e vão embora." De acordo com Luzineide, nunca ofereceram uma outra moradia à sua família. Se dependesse dela, voltava para a Bahia, mas a família prefere ficar aqui. "Minha neta vai começar a estudar agora, quem sabe não consegue coisa melhor do que catar lixo numa carroça...", diz Luzineide, cética, porém com um quê de esperança.



Seu marido faz três viagens diárias, pelas comerciais do Plano Piloto, atrás de papel, papelão e comida. "O que der para aproveitar, nós aproveitamos. Não temos muita escolha."



Questionada sobre o decreto de 2007 que proíbe os catadores de transitarem com carroças, ela apenas prevê: "Qualquer dia vão querer proibir pobre até de andar, mas enquanto Deus me der pernas eu vou continuar andando". E segue varrendo o papel para debaixo do plástico. Inutilmente, pois a chuva a pingos grossos já chegou.

domingo, novembro 30, 2008

Rome's Ultimate Party

Puta que o pariu. Como se começa um texto depois de uma noite em que se conheceu o amor de sua vida, e o deixou partir - sem sequer trocar e-mails? Bom, poderia simplesmente dizer que, well.. a coisa mais estúpida que se pode fazer é se apaixonar em um Pub Crawl.

Ele estava lá. Era simplesmente o amigo do americano ultra-amigável, who was going to do his master in History and Political Sciences at the University of Moscow, e queria ficar com a Patty. No início achei que ele era gay. Nem tão bonito assim, sabe? Alto, magro - tipo skinny -, loiro, de cabelo comprido, com chapéu estiloso, na boite mais high society de Roma.

Mas ele tinha um sorriso, um olhar. I knew we had bonded. Tá, que ele tinha se interessado por mim. Por que, diabos, isso é tão estranho? Talvez porque os únicos caras que conseguem penetrar minha fortaleza de gelo (ha-ha) e indiferença aparente sejam que nem o ferocious Italian, ainda que eu prefira aqueles com quem a gente começa em um jantar.

"I do like to be taken to dinner first." Ao que ele responde "So do I..." e a gente simplesmente sabe. Sabe? E depois de tentar sound smart with polysyllables and a stylish and fake indifference eu simplesmente levei as mãos ao rosto e me perguntei "Why am I gonna miss this chance?".

Porque éramos naturais, ainda que adorássemos jogos de palavras. A jornalista e o estudante de English Literature, de New York Contryside, que adora música - inclusive os Mutantes, cujo bottom há pouco caíra de minha mochila -, tomar café-da-manhã at 24 hours dining rooms, e falar - sempre que querem escutar.

Ele falou que nunca made the first move, e eu que tampouco o faria. E nos olhávamos nos olhos. "He's got such innocent eyes" I kept on thinking. Eu mordia os lábios, em uma mistura de desejo com incredulidade. Não conseguia acreditar que o cara que actually dated a hippie - and thinks girls don't need heels to look better - was there, sitting next to me.

And when I told him I was being natural he asked "haha, with this make-up, the tights and the heels?" and there I went, telling him how even alternative guys go for patricinhas. E ele riu. Falamos sobre The Valley girls. Sobre Loser, Loser, Double Loser, As If, Whatever, Take a Picture, Duh. E rimos. Trocamos olhares pras bocas, olhares pros lábios. Olhares no fundo do olho. Ai, como eu queria poder filmar aqueles olhares e guardar numa caixinha.

Qual não foi minha surpresa - para mim que sempre me interesso por esses arrogantes, distantes e superiores guys... - quando ele falou "I don't fit in, dancing there..." Respondi que ele não parecia not fit in, que tinha um ar meio superior. E ele revelou: I FAKE INDIFFERENCE. E eu "ah, meio indie assim, né..." e ele "OMG, You got me all figured out, now". Brincamos com sarcasmo. Falamos sobre filosofia, Sartre, Rousseau, Sophie's World, and so on. Essa foi a parte em que zoávamos os pseudo-cults, mas mostrávamos não ser ignorantes. Mágica masturbação intelectual.

E ele falou sobre sua futura namorada, actual open-relationship. E de como ele não really ficou com muita gente em sua vida, e de como a namorada era uma ex-lésbica - who was just coming out of a five-year relationship. E do medo que ele tinha de ela ficar com a ex, que é beeeem mais ferocious. Ele não é the ferocious kinda guy, mas falou "we all need to get a little ferocious sometime!" I couldn't agree more. I just wished he had been a little more ferocious and kissed me. Mas na verdade, eu queria mesmo que aquela noite, aquela atmosfera, não acabasse. I could keep on talking - and listening - forever by his side. "I do think you're cute..." was all I got. Ai!

Isso em parte porque tenho medo dos conformes, e das horas do vamo-vê. Olho casais na pista, beijando-se loucamente, transpirando loucuras, e não me animo. Preciso de mais meiguice and bonding. A lot more. Prefiro nada, a perder a magia construída. Covardia? É bem capaz.

O pior mesmo foi quando ele foi embora, to catch his plane at 5 am, e eu disse que tudo ficaria chato. Tudo, de fato, ficou chato. Eu só queria alguém de verdade to be there. Mas ao invés disso se senta um cara que só queria faturar uma loirinha na noite... Mais um vazio, em meio ao mundo de vazios que a gente tem. Cara, there's gotta be something else.

WANTED: American Guy, named Carl, or Chad, or anything similar, from one of the (too) many NY Countrysides, who likes Os Mutantes and was at the Rome Pub Crawl, on January 13th 2008.


Acontecimentos atuais nos dão coragem para escrever sobre os antigos.
É só uma roda-gigante de erros, que insistem em não desembarcar. Deixam a menina-mulher na fila do brinquedo que é ir às alturas, ainda que com a certeza de uma eventual descida. Um dia ela consegue um lugarzinho, com direito a algodão doce e tudo!

quinta-feira, novembro 27, 2008

Como eu penso - ainda imatura!

Desde o início, a idéia de “preguiça intelectual” me pareceu muito interessante. Ramón y Cajal utilizaram-na para explicar a necessidade de se estudar e estar disposto a trabalhar arduamente para sair do óbvio, do aparente esgotamento de idéias. A inspiração foi apresentada como um elemento extra, porém não suficiente para se obter bons resultados.

A meu ver, a “preguiça intelectual” vai além de uma preguiça em ler livros, escrever resenhas, apresentar seminários e estar sempre em dia com o plano de trabalho a se seguir para um determinado projeto. Ela está em não se dispor a pensar.
Julgo sempre mais cômodo – ainda que muito frustrante - aceitar seguir caminhos mais óbvios, já desbravados e livres de olhares tortos. Ir na direção contrária é sempre mais doloroso, e não apenas por razões externas, como preconceitos ou discordâncias. Ao contrário: o que mais pesa são os obstáculos interiores. É a preguiça de continuar pensando!

Na última reflexão eu trouxe um pouco da minha aflição de sempre estar pensando. Entretanto, ainda mais agonizante que o constante “estado pensante” é perceber que muitas são as vezes em que tenho de deixar de lado certas opiniões, complicações, dúvidas, indagações, empecilhos e pedras no caminho em prol de um consenso – que à noite, com a cabeça no travesseiro, percebo fajuto.

Explico: são cada vez mais constantes as abdicações de um debate aprofundado em busca de um suposto consenso, com a justificativa de que esse debate atravanca ações. Alguns defendem que quanto mais se sabe, menos se faz, pois alguns empecilhos colocados nunca seriam levantados por ignorantes stricto sensu.

Não defendo um debate por debate, mas muita ação não é sinônimo de bons resultados. Ações impensadas e espontâneas certamente podem dar certo. Muitas, contudo, são as que não dão – e isso poderia ser evitado com mais reflexão e debate acerca do assunto. O debate necessariamente deve conduzir a uma ação em um determinado momento. Essa ação, porém, deve ser precedida de uma discussão profunda. Uma vez trazida à tona a complexidade de cada questão, é provável que ela jamais se esgote, mas um mínimo de debate já seria suficiente para estimular reflexões até mesmo simultâneas à ação desenvolvida, que ainda que não fosse perfeita, seria no mínimo crítica.

Muitas vezes dou lugar à preguiça de debater e expor minhas idéias, construindo argumentos fortes e fundamentados... que serão, eventualmente, refutados. Curiosamente não é uma possível (e provável) refutação que me desestimula a seguir com o debate. São os olhares e discursos criticamente apáticos de quem repudia a constante discussão; não por ser favorecido pelo status quo, mas por deliberadamente não enxergar nenhum problema nele.

Deparada com essas resistentes barreiras, muitas vezes simplesmente desisto. Ainda mais difícil que dialogar com aqueles de idéias divergentes, é se relacionar com quem nem sequer idéias tem – e não está minimamente interessado em desenvolvê-las. Aí entra outra preguiça: a de mostrar à outra pessoa o quanto esse debate, essas idéias são necessários. Muitas vezes a pessoa não assimila isso, e eu ainda me sinto como se fosse uma catequizadora, encarregada de trazer a luz aos cegos de Platão! O conflito desloca-se então do debate sobre a ação para um debate sobre a necessidade de se debater, que atrasa ainda mais qualquer resultado almejado.

Essa idéia de detentora da verdade me incomoda, como coloquei na última reflexão. Contudo, não consigo pensar e agir de outra forma que não seja através de discussões e do debate de idéias. A partir dessas reflexões cheguei então a uma conclusão que vai me servir como ponto de partida. Minhas idéias certamente não são superiores às alheias, nem eu tenho as respostas do que é certo ou errado, melhor ou pior – se é que essas respostas existem - em mim mesma. Ainda assim, uma coisa é certa: fechar-se ao debate é uma postura equivocada. Então, por mais que eu tenha pré-concepções internas, estou aberta a confronta-las e, quem sabe, muda-las. Não estou certa, nem errada, apenas pensando. E aprendendo.

domingo, novembro 16, 2008

Como eu penso - Versão imatura

Desde os nove anos me entendo por “ser pensante”. Antes mesmo de “ser humano”, “ser místico” ou “ser social”. Foi Pedro Bahia o responsável por essa – não tão bendita – conscientização.
- “A gente não consegue parar de pensar nunca!” ele falou, como se tivesse feito a maior descoberta de sua nada longa existência.
- “Lógico que consegue!”
- “Lógico que não! Quer ver? Tenta parar de pensar”.

Contudo, a não ser que você tenha atingido o Nirvana ou outra forma de profundo controle mental, percebe a impossibilidade de imediato. Involuntariamente começa a pensar em como não pensar e se pega pensando “eu não posso pensar, eu não vou pensar, agora – por exemplo – eu não estou pensando! Quer dizer, se eu acabei de dizer isso, na verdade estou... e agora?”

Apesar de desesperador, tal constatação me fez pensar nos meus pensamentos. Até então, nem sequer pensava neles, simplesmente pensava. A partir daquele momento, porém, sempre que pensava tentava entender porque assim pensava. Mas a própria forma como se dava a reflexão sobre o porquê de pensar daquela maneira desencadeava outro pensamento sobre o pensar.

Entrava então em um estado de profunda agonia, até conseguir me esquecer de lembrar de pensar naquele ato de pensar. Enquanto não me esquecia, tentava analisar criticamente os pensamentos. Por que pensava daquele jeito? Por que pensava aquilo? Como não pensar aquilo daquele jeito?

Por vezes era autoconfrontada a pensamentos incômodos, os quais eu mesma julgava irem de encontro ao que acreditava ser certo pensar. Pensava então: o que faz algo ser certo de pensar? Intuitivamente sabia serem valores intrínsecos a mim – e que poderiam revelar-se fajutos eventualmente – os quais me guiavam naquela direção. Estava iniciada a crise de identidade: até que ponto minha forma de pensar era mais correta que alguma alheia, e por que eu cismava em me achar mais correta, ainda que não quisesse achá-lo.

Sempre soube – talvez não desde os nove anos, mas há um bom tempo – que valores pessoais, morais ou institucionais não são parâmetro para se julgar uma ou outra forma de pensamento. Mas caía (e ainda caio, me estatelo na verdade!) no dilema: ainda que respeite outras visões, como respeitar inclusive aquelas que rechaçam as minhas? Ou ainda às vezes, por que respeitá-las? É possível respeitar a liberdade e propriedade intelectual daqueles que lhe desrespeitam?

Poderia dizer que sim, mas penso que não. Apesar de algo me dizer que deveria pensar que sim. É muito difícil achar limites para máximas como “respeito é fundamental”, ainda mais sem cair no velho conto da carochinha “sua liberdade termina onde a minha começa”. É bonito, bonito – porém falso. Dentro de minha mente me pego pedindo para acreditar que devo respeitar e aceitar, mas sinto como se na realidade isso não passasse do medíocre pensamento: “coitadinhos, eles não conseguem ver o mundo de verdade”.

Não seria eu a coitadinha, julgando ver o mundo de verdade? Meu ego diz que não, minha consciência diz que sim. E eu penso que ainda pensarei na minha forma de pensar nisso por muito, muito, tempo.

Circular da linha 82 oferece biblioteca itinerante à população

Marcelo Abreu - Correio Braziliense

Publicação: 16/11/2008 08:54 Atualização: 16/11/2008 10:20
Certo dia, sentada na sua cadeira com vista para a janela, uma passageira intrigou-se com a cena a que assistira. Em vez de olhar para a paisagem, fixou o olhar naquele homem. Viu que ele folheava um livro. Conseguiu ver o autor. Era Jorge Amado. Entre um sossego e outro, enquanto não chegava passageiro, ele passava uma página. Ela percebeu que, além daquela viagem, havia outra, que andava longe daquele ônibus. A mulher se encasquetou. Antes de descer, foi até o moço e perguntou: "Você gosta de ler, cobrador?" Ele devolveu, envergonhado: "Gosto, sim, senhora!"

Ela desceu e desapareceu no meio da multidão. Uma semana depois, embarcou novamente naquele ônibus. E trouxe três livros para o cobrador. Eram obras de literatura brasileira. De tanta emoção, o moço engasgou. Levou para casa seu mais novo acervo. Devorou-os. Enquanto lia suas histórias, pensou: "Por que não compartilhar isso com outras pessoas?" E ele teve uma grande idéia: levaria os livros para o ônibus e assim incentivaria outras pessoas a ler também. Antes, muito antes, ele pensou em montar uma biblioteca em Sobradinho II, onde mora. Seria um espaço de leitura e pesquisa para quem quisesse chegar. Desistiu pela completa falta de apoio e nenhuma condição financeira.

Sem ter uma biblioteca fixa, resolveu que ela seria itinerante. Juntou as 10 obras que tinha em casa, colocou numa sacola e partiu para o ônibus onde trabalhava, um circular em Sobradinho II. Ali, a idéia se espalhou. Numa caixa de papelão perto da roleta, ele colocou os livros. E um cartaz: Projeto Cultura no Ônibus. Ninguém entendeu nada. "É pra pagar?", perguntavam alguns. Não era pra pagar. Era pra ler, pegar emprestado, com o compromisso de devolver, e pegar mais. Tantas vezes quisesse. Incansavelmente, ele explicou sua idéia para os passageiros da sua linha. E pedia doação. Quem tivesse algum livro em casa, e não mais quisesse, ele aceitaria.

A novidade se espalhou. Em poucos meses, havia centenas. De todos os tipos, gêneros, gostos. Até gibis. E o povo começou a ler, levar para casa, trocar. Falar de poesia, comentar sobre histórias. Nem a confusão do ônibus lotado tirou a vontade de ler dos passageiros. A linha de Antônio tornou-se a mais disputada do pedaço. Há sete meses, porém, o cobrador foi transferido para a linha 82, que parte do Núcleo Bandeirante com destino ao Setor de Abastecimento e Armazenagem Norte (Saan). Ali, recontou sua história. E mais livros chegaram. A casa modesta onde mora de aluguel com a mulher, filho e uma enteada não coube mais tanta coisa. Ele teve que alugar um barraco para guardar o acervo que não parava de chegar. Todo mês, desembolsa R$ 120, do salário de R$ 569, para pagar o aluguel do lugar onde está seu tesouro. Hoje são mais de 4 mil livros.

Feito de sonho
Na nova linha, o cobrador Antônio da Conceição Ferreira, maranhense de 36 anos e há 13 morando no DF, teve mais uma boa idéia. Deixaria as obras mais visíveis, para que o passageiro pudesse vê-las melhor. Não perdeu tempo. Foi a uma banca de jornal da Rodoviária do Plano Piloto e pediu a uma funcionária que lhe desse um porta-jornais de plástico. Contou o que pretendia fazer. Saiu dali com cara de menino que ganha presente de Natal.

No dia seguinte, levou o porta-jornais para sua biblioteca ambulante. E o pendurou depois da roleta, logo atrás do validador de cartões eletrônicos. E o anúncio, numa folha A4, impressa em computador, o nome do seu projeto. O povo que ainda não conhecia a intenção do cobrador se indagava: "O que seria aquilo?" Outros se aproximavam. E ele explicava tudo mais uma vez. Aos poucos, as pessoas foram entendendo. E descobriram que não precisariam pagar nada para ler livros, trocados todo dia. A disputa foi grande. As viagens nunca foram tão concorridas. A linha 82 virou atração. Há quem a espere com ansiedade.

Quem pega o livro assina uma ficha, que vira o cadastro. Lá, consta o nome do leitor e o telefone. Nada mais. Prazo de devolução? "Varia de acordo com a capacidade de leitura de cada um", ele explica. Em um ano, não mais que 10 livros deixaram de ser devolvidos. "Jamais vou deixar de levar meu projeto pra frente porque um ou outro não devolveu. Os honestos não podem pagar pelos não honestos", reflete o cobrador — filho de um lavrador e uma catadora de coco babuçu. Antônio deixou os confins do Maranhão atrás de um sonho: estudar e "ser alguém na vida".

Aqui, entretanto, por causa das dificuldades financeiras, ele ainda não conseguiu terminar o ensino médio. Precisou trabalhar para sobreviver. Foi auxiliar de serviços gerais, balconista, vendedor e, há 8 anos, virou cobrador. Levou o desejo de estudar para dentro do ônibus. Realiza-se quando observa um passageiro extasiado com seus livros. "Quem lê tem uma visão mais crítica das coisas, do mundo e da vida. Aí, se liberta", ele filosofa. E, assim, durante seis horas e meia por dia, seis dias por semana, faz o que mais gosta: leva conhecimento a quem, na maioria das vezes, não teria condições de comprar um livro.

Início da tarde de sexta-feira, 12h40. O Correio acompanhou uma viagem da linha 82. Nela, o cobrador Antônio e o motorista Aurélio Marcos Araújo, 35. Saída: Terminal Rodoviário do Núcleo Bandeirante. Destino: Saan. Tempo total da viagem completa: 1h30. E vamos nós. Logo na Metropolitana, bairro próximo ao terminal, sobem mãe e filha. Ambas passam na roleta. Sentam-se atrás do porta-livros. Larissa, de 7 anos , vê uma revistinha da Mônica. Não se contém. Vai até a biblioteca e pega o gibi. Encanta-se com a historinha. A mãe, Renata Oliveira, 25, elogia a idéia do cobrador: "Ajuda a viagem passar logo".

E o ônibus segue. Chega à Candangolândia. Francisca Santos, 28, entra. Auxiliar de serviços gerais numa empresa do Saan, a moça estava ansiosa para pegar aquela linha. E havia motivo especial. Na quarta-feira, pediu ao cobrador que lhe arrumasse um bom romance. Antônio foi ao seu acervo e trouxe Momentos de encanto, de Helen Bianchin. Francisca passará todo o fim de semana lendo. "Ele (Antônio) faz uma coisa que eu nunca tinha visto igual", avalia. E confessa: "Quando eu pegava o ônibus, só queria dormir. Agora, só penso em ler, ler muito".

Dedicação à cultura
Aniversariante da sexta-feira, a auxiliar de teleatendimento Adriana Leandro, 30, também embarcou na linha 82. E, grata ao cobrador que lhe devolveu o prazer da leitura (em pouco mais de três meses leu oito livros), emocionou-se: "Sou fã desse homem. Ele faz esse trabalho e não ganha nada por isso. Faz pela dedicação à cultura". Naquele dia, Adriana levou Quando é preciso voltar, de Zíbia Gaspareto. "Há um ano procurava por esse livro. Ele conseguiu pra mim. É meu presente de aniversário", comemora a leitora.

O estudante Fernando Augusto Salvador, 17, é grato a Antônio. Morador de Santa Maria, ele desce na Candangolândia para seguir na linha 82, que o leva ao Saan, onde faz estágio. Numa dessas viagens, descobriu os livros do cobrador. Pirou ao encontrar O pagador de promessas, de Dias Gomes. "Adoro ler. Este ano, já li mais de 100 livros. O que esse cara faz não tem preço, ainda mais num país onde quase ninguém lê", elogia Fernando.

E a viagem continua. O tempo urge. Uns entram, outros descem. A vida sacoleja. Mas a biblioteca sobre rodas está ali, à espera de um leitor. De alguém que possa sonhar por meio de letras. Assistindo a tanta catarse, a tantos renascimentos, Antônio admite, com os olhos marejados: "Esse é o meu sonho. Ver todo mundo lendo, pensando melhor. Queria poder colocar livros em todos os ônibus do DF". E planeja, convicto: "Ano que vem, vou voltar aos meus estudos. Em 2010, se Deus quiser, pretendo entrar na faculdade de biblioteconomia, da UnB". Tem gente que passa pela vida. Há outros que edificam, transformam, realizam sonhos e são capazes de renascer. O cobrador que encheu um ônibus de livros e tem ajudado a mudar a vida das pessoas faz parte da segunda categoria.

Por uma causa
Quem puder doar livros e ajudar Antônio no projeto cultural pode ligar para 9195-5023.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_13/2008/11/16/noticia_interna,id_sessao=13&id_noticia=48992/noticia_interna.shtml
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Notícia emocionante. Às vezes a gente coloca tanto empecilho na frente de alguns projetos e ações, enquanto pessoas despretenciosas começam com pequenas coisas e fazem toda a diferença... Fica de exemplo e inspiração.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Letting go

"The veil hiding the mysteries of life might seem a bit thin at the moment, and things that usually seem stable might feel as if they're rocking a little. Don't panic. You're getting a glimpse of other, deeper levels of reality, and the more open you are to those currents, the richer your life could become, even if it's only a little glimpse. Sometimes these small partings of the veil come through intense emotional experiences, and that can often mean tension and anxiety - after all, reality is supposed to be solid and rational, and life's great mysteries have all been explained away. But of course they haven't, and right now you are likely to realise this pretty powerfully, even if you already knew it before. The secret is to let go of whatever needs to be let go of, and allow yourself to be changed." lá do astro.com

Why does it always have to be a matter of letting go, huh? Well, I say "Let'em come" instead. Not that it helps - far from that, actually - but it sure makes me feel alive, rather than "numbly frustraded" slash alienated.

terça-feira, novembro 11, 2008

Tudo por uma noite na terra do nunca!

Qual não é minha tristeza em deixar o Peter Pan na TV da sala e voltar para minha terra do sempre...

sábado, novembro 01, 2008

"En la lucha de clases todas las armas son buenas... piedras, noches, poemas"

por Paulo Leminski

domingo, outubro 26, 2008

Eleições 2008

O povo paulistano é que sabe,
se escolheu Kassab,
agora é ir aguentando...
relaxando e gozando!

Por no mínimo quatro anos;
ou enquanto o DEMônio durar.

Panquecas

Viver é que nem aprender a fazer panquecas.

Na primeira vez, você prepara uma receita dupla para ir experimentando, na certeza de que pelo menos metade vai se perder. Depois de bater todos os ingredientes no liquidificador - na dúvida cruel se o sal a gosto está mais a gosto ou mais a desgosto - você se diz: "quer dizer que agora é só fritar?!".

Queimado engano. Há toda uma técnica por detrás do movimento "despeja concha na frigideira anti-aderente presente da amiga querida + espera bordas estarem secas e bolhas aparecerem no meio + vire a panqueca + está deliciosa, prontinha pra servir".

Você despeja uma concha cheia. Acha que não é suficiente, bota um pouco mais. Passam dois minutos e, apesar das bordas sequinhas e incontáveis bolhas, a panqueca parece não querer desgrudar. Você tenta um pouquinho, com uma delicadeza contestável. A panqueca quebra. Não tem volta. Bota no prato, tenta juntar, não dá jeito.

Passa à segunda concha. Dessa vez pinga uma gota de óleo na frigideira, como quem não quer nada. "Agora ela solta! Já me disseram que a liga com farinha integral é mais difícil mesmo!" E ela até solta um pouquinho. Você se anima. Consegue levantar mas, diacho, ela quebra em vários pedaços molengas impossíveis de se remendar.

Enchida a terceira concha, percebe que se fizer uma camadinha mais fina, ela desprega mais facilmente. A partir daí, tudo fica mais fácil. Uma, duas, três panquecas prontas! Na quarta a segurança já é tanta que você se atreve a ir pro computador enquanto ela frita... ousado atrevimento. Eis uma panqueca queimada.

Depois ainda vêm outras preocupações: recheio, calda, tempo ao forno. Mas é tudo um aprendizado. E, no final, você se depara com quatro panquecas super apetitosas. E um estômago embrulhado. Ah, salgadas ironias do destino. Deixa o tempo passar até que a fome volte. Mais tarde, se delicia com aquele improviso. O resultado é tão bom que você se pega tentando uma receita de bolo de banana!

Incertezas, insegurança, excesso de segurança, ironias, felicidade e recomeços. Um círculo virtuoso. Quase à la Rei Leão e seu ciclo da vida...

quarta-feira, outubro 15, 2008

segunda-feira, outubro 13, 2008

Pague 1, leve 2

Monólogo de Oficina de Interpretação.

Tem coisa melhor que dia dos namorados? Todo mundo apaixonado, e as lojas todas ajudando. Nunca vi tanto "Pague 1, leve 2" na vida. Só tem uma condição: mostrar certificado de feliz para sempre e de namorado presente.

Outro dia fui na creperia e tinha lá, com letras vermelhas e corações múltiplos: "No dia dos namorados venha com seu amor e pague apenas metade do preço!"

Aí eu fui! Ia com um amigo, mas ele arranjou oooutro amigo... e eu acabei indo sozinha. Pensei em comer um daqueles crepes de massa integral, com salada e carne magra, para não engordar muito, né?! Senão, aí é qu'eu nunca arranjo um namorado.

Mas a garçonete me olhou com uma cara de desprezo tão grande, que eu mudei de idéia. Pra quê?! Achei que fosse entrar em depressão. De um lado, casais apaixonados. De outro, maaais casais apaixonados. E na minha frente, uma bomba calórica.

A solução foi olhar para cima e fingir que não estava nem aí. Que era melhor que toda aquela indústria capitalista, que só pensa em vender. Vender corações, ursinhos, chocolates, abraços e amor. Onde é que se vende amor? Me fala que eu vou lá comprar. Agora mesmo! Mas tem que ter garantia infinita de não-enrolação, não-traição, não-chateação... e não-abandono.

Enquanto não acho a loja do amor, me contento com creperias. Fui ao caixa pagar a refeição. Qual não foi minha surpresa, então, quando a mulher quis cobrar a conta toda:
"Um crepe de Strogonoff, mais um de Nutella com morangos e duas Cocas Zero... dá R$26,90." Me assustei.
"Mas moça, e a promoção?!" Adivinha o que a descarada me respondeu:
"É só pros namorados, dona!" Não acreditei. Como assim?! Ainda mais que eu tinha comido tudo em dobro só pra participar...
"Ué, imagina se eu fosse dar crèpe de graça pra todo guloso que vem aqui?!" Céus! Ainda por cima me chamou de gorda. Isso porque eu nem tô tomando refrigerante.. só Coca zero. Ai ai, quanta indelicadeza.

Resolvi deixar pra lá. Já podia sentir os olhares dos casaizinhos grudi-grudi que pairavam sobre mim. Mas também, aprendi minha lição: nunca mais volto naquela creperia! Quer dizer, pelo menos não solteira!

Strong personality

"Valid during several weeks:

At this time of year, you will become more concerned with personal matters and less with the world at large. You can project yourself with more forcefulness than usual. It is an excellent time for making an impression on others, but you must be careful because you will not be especially sensitive to their needs. For this reason, you may find it difficult to work with others during this transit.

If your efforts to work on projects with others don't seem to get anywhere now, perhaps you should defer them until later. First you should take care of the proper business of this transit, which is to experience yourself in a subjective frame of reference.

You have a great need to express yourself now, and it is a valid need. No purpose will be served by denying all your own needs in favor of a misguided concept of duty."

Nem todo horóscopo é feito por sorteio pro jornal do dia.

domingo, outubro 05, 2008

A Inclusão Social na segurança do jornalista

Estudo de caso: Seqüestro dos jornalistas de “O Dia”, em 14/05/2008

A reportagem seria um estouro: depois de duas semanas inseridos no dia-a-dia da favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a repórter, o fotógrafo e o motorista do jornal O Dia tinham material suficiente para delatar a atuação corrupta e ditatorial da milícia controladora daquela favela.

Em apenas sete horas, a reviravolta. Os jornalistas passaram de heróis da notícia a vítimas da Barbárie por eles tanto criticada. Tortura, abuso de autoridade e humilhação foram as armas que os “bandidos que usam farda nas horas vagas”[1] empregaram contra a informação. O Sindicato dos Jornalistas classifica a violência como “um dos mais graves atentados à liberdade de informação”. O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, aconselha a redução da cobertura das favelas cariocas. Tal redução implicaria em conseqüências bastante delicadas: não seria a violência resultado da marginalização proporcionada pela própria mídia, contra as favelas e periferias? E, assim sendo, uma diminuição da cobertura, ou – em outras palavras - imposição de uma autocensura, não daria continuidade ao círculo vicioso marginalização – violência - marginalização?

Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), coloca que “a missão do jornalista não é morrer, mas não se pode recusar a fazer uma cobertura porque o nosso trabalho é uma atividade de risco. Essa tese de que não se pode cobrir certas áreas significa imposição de autocensura” [2].

Como conciliar, então, a proteção efetiva dos jornalistas e uma cobertura completa de todas as esferas da sociedade? Ou, como coloca o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, como encontrar “um meio de a imprensa cumprir seu papel de informar com responsabilidade garantindo a integridade de seus jornalistas”[3]. Antes de tudo, cabe ressaltar quais os dois principais empecilhos para a uma eventual conciliação: (1) a ausência de interesse comercial na periferia (tanto enquanto público-alvo como valor-midiático), que culmina na falta de cobertura local; (2) e as exceções à regra – apelidadas de “infantaria do jornalismo” – que, sem a menor retaguarda, enfrentam a “missão” [4] de trazer à mídia uma abordagem autônoma e livre da periferia, que difira do estado de “terror e medo” pautado pelo “corporativismo da política, da mídia e da milícia”[5]. Tais exceções, apesar de poderem apresentar resultados heróicos, muitas vezes culminam em tragédias como esta e a de Tim Lopes – a qual completou, coincidentemente, seis anos no dia do ato de repúdio ao seqüestro dos jornalistas de O Dia.

Existem ainda, certamente, aqueles profissionais sedentos por prêmios e grandes furos. Nestes, a busca por reconhecimento e audiência supera escrúpulos e prudência, e qualquer discussão acerca de sua segurança necessitaria outra abordagem. Tratemos apenas daqueles comprometidos com a informação e o interesse público – não necessariamente “do público”.

Medidas como a “instalação de comissões de segurança nas redações, formadas por jornalistas que fiscalizem as medidas de proteção à vida e que avaliem os riscos de cada cobertura”, são velhas reivindicações do Sindicato, “o pior caminho para a imprensa será deixar que a tortura de Realengo atinja o objetivo dos torturadores: calar o jornalismo” [6]. “Para combater o crime organizado, faz-se necessária uma redação organizada”[7]. Esse objetivo só pode ser alcançado quando certos paradoxos forem vencidos: em uma sociedade tecnologicamente avançada como a nossa, onde até cachorros podem ser monitorados, o único impedimento restante à segurança dos jornalistas é o descaso. A famosa falta de interesse econômico.

Falta aos donos e diretores dos meios de comunicação a compreensão desse círculo vicioso: é do interesse da população em todos os âmbitos - economia, segurança, cidadania – que se insiram as camadas marginalizadas na agenda da mídia, e – principalmente – que esse agendamento seja positivo e não reforce ainda mais os estereótipos tradicionalmente transmitidos de criminalidade e pobreza. Somente com inclusão social e a realização de uma política de segurança para os jornalistas empenhados com essa causa, tragédias como a que atingiu os jornalistas do periódico O Dia poderão ser evitadas.



[1] Comunique-se, 31/05/2008

[2] O Dia, 06/06/2008

[3] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas, 02/06/2008

[4]O Dia, 06/06/2008

[5] BENTES, Ivana. “Mídia e Política”, Carta Capital, 17/06/2008

[6] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas, 02/06/2008

[7] Luiz Martins da Silva, Professor da UnB

sexta-feira, julho 04, 2008

O Buraco Do Espelho

Composição: Edgard Scandurra / Arnaldo Antunes

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

quarta-feira, julho 02, 2008

Um sorriso nos lábios

por Gonzaguinha.

Ponha um sorriso nos lábios
que refrescante sensação de mal estar?

Vidro moído ou areia no café da manhã
e um sorriso nos lábios
Ensopadinho de pedra no almoço e jantar
e um sorriso nos lábios
O sangue, o roubo, a morte, um nego em cada jornal e
um sorriso nos lábios
Noventa e cinco sorrisos suando na condução
e um sorriso nos lábios...

Mas sonha que passa
Ou toma cachaça
Agüenta firme, irmão, na oração
Deus tudo vê e Deus dará
Ou então acha graça
É tão pouca a desgraça
Mas no fim do mês lembra de pagar a prestação
Desse sorriso nos lábios
É
Desse sorriso nos lábios
Pois é
Desse sorriso nos lábios...

O jogo, a nega, a loteca, a fome e o futebol
e um sorriso nos lábios
A taça, a vida, a dureza, viva a beleza do sol
e um sorriso nos lábios
Os olhos fundos sem sono, os corpos como lençol
e um sorriso nos lábios
O cerco, a vida, o circo, silêncio, um medo anormal
e um sorriso nos lábios

Pois o Rio de Janeiro continua lindo
tem um sorriso nos lábios
São Paulo a São Paulo continua indo
é, é
põe um sorriso nos lábios
sorria, sorria
põe um sorriso nos lábios
sorria
a vida é linda
sorria
que a vida é linda
põe um sorriso nos lábios
sorria
põe um sorriso nos lábios
que essa refrescante sensação
põe um sorriso nos lábios
sorria
olha a fo-tô-gra-fi-a
põe um sorriso nos lábios
oh, ponha um sorriso nos lábios
sorria,
a vida é linda demais
sorria
põe um sorriso nos lábios
ah esse sorriso nos lábios
põe um sorriso aí oh
põe um sorriso aí oh meu chapa
sorria.

sexta-feira, junho 13, 2008

Um Tibete acorrentado

Com a chegada das olimpíadas de Beijing, as lentes se voltam para a região não tão autônoma do Tibete


Resta saber o que é mais resistente: o metal das grades que começam a enferrujar, ou a força do grito deles, dos gritos nossos.


A menos de dois meses dos tão aguardados Jogos Olímpicos de Pequim, era de se esperar que os burburinhos girassem em torno dos bilhões de Yuans gastos para convencer o mundo do surgimento de uma nova potência. Graves violações de direitos humanos, como patrocínio de chacinas sudanesas, exploração do campesinato, aplicação de métodos questionáveis no controle de natalidade, e intensa censura poderiam ser apenas detalhes. Mas não foram: o showrnalismo - ora péssimo, ora muito conveniente - não permitiu.

Tudo começou quando Steven Spielberg, com medo de tornar-se uma Leni Riefenstahl moderna, recusou o convite de filmar as olimpíadas. Depois veio a denúncia: para vencer a corrida pelo ouro contra os Estados Unidos, a China adotara sistema exploratório e desumano no treinamento de atletas.

“Desumano”: palavra de impacto. Tanto impacto que foi incorporada por outras reivindicações, em especial pela já quinquagenária luta separatista tibetana. Budistas pacíficos, seguidores de Dalai Lama, arriscaram protestos e sofreram com a violenta represália.“Libertem o Tibet”, “livrem-no dos grilhões chineses”, “afrochem as amarras imperialistas!” foram e continuam sendo entoados. Os gritos de guerra ecoam por toda a parte, inclusive na fotografia. O resultado? Certo realismo com um quê de simbólico, perfeito para o fotojornalismo artístico, saltitante aos olhos e às mentes inquietas.

O grito ecoa, é propagado. Nós ouvimos, fazemos passeatas e, até mesmo, abaixo-assinados. Mas ele não consegue deixar a parede: as correntes não permitem. Os meios de comunicação vão parar detrás das grades. A voz é abafada. O grito é mantido. Enrouquece. Resta saber o que é mais resistente: o metal das grades que começam a enferrujar, ou a força do grito deles, dos gritos nossos.

Gustando.

de Manu Chao.

"Me gustan los aviones, me gustas tu.
Me gusta viajar, me gustas tu.
Me gusta la mañana, me gustas tu.
Me gusta el viento, me gustas tu.
Me gusta soñar, me gustas tu.
Me gusta la mar, me gustas tu.

Que voy a hacer, je ne sais pas.
Que voy a hacer, je ne sais plus.
Que voy a hacer, je suis perdu.
Que horas son, mi corazón.

Me gusta la moto, me gustas tu.
Me gusta correr, me gustas tu.
Me gusta la lluvia, me gustas tu.
Me gusta volver, me gustas tu.
Me gusta marijuana, me gustas tu.
Me gusta colombiana, me gustas tu.
Me gusta la montaña, me gustas tu.
Me gusta la noche, me gustas u.

Que voy a hacer, je ne sais pas.
Que voy a hacer, je ne sais plus.
Que voy a hacer, je suis perdu.
Que horas son, mi corazón."

sexta-feira, maio 30, 2008

Ensina-me a viver


"A Rodoviária é panacéia de ritmos, sons, cheiros, sotaques, sexos: o céu e o inferno, mancomunados. Vou sempre lá quando o tédio bate - e tudo dói. Naquele lugar, mais que em qualquer outro de Brasília, tédio é abstratíssimo substantivo, invisível, inviável. Saio-de-lá curado, sem dor-alguma, sem náusea-alguma."

Rogério Menezes

quinta-feira, maio 29, 2008

Indiferença: dos males, o pior.

"Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem nada façam."

Edmund Burke

quarta-feira, maio 28, 2008

Roteiro: Monólogo de minha morte

[Faço entrada tradicional, com cambalhotas, queda da bicicleta, e truque do lenço que puxa a cueca de fora.]

PALHAÇO DECADENTE - Não tão respeitável público! Dizem que os incomodados é que devem se retirar, mas o que é um palhaço sem seu público? Um Bochecha sem seu Claudinho: sou eu assim sem vocês. [Levo o dedo à boca, mostrando o nojo que tenho dessas coisas]
Dizem também que água mole, em pedra dura, tanto bate até que fura. E vocês, fantoches da Zorra Total, transformaram meu pobre coração em uma pedra velha e carcomida. [Voz de descaso] “Foi sem querer querendo”, vocês irão dizer. Sem querer minha presença, e querendo minha morte, digo eu.
Querer nem sempre é poder. Eu, por exemplo, queria ficar neste ingrato picadeiro, mas não posso. Que farei eu agora, a cada manhã, sem o doce cheiro de bosta de elefante? [Cara de nojo para o fedor] Sem o bafo da onça e da bailarina? Sem pêlo de mulher barbada em minha marmita?
À noite, meu dia terá sido incompleto, sem o choro desses pentelhos catarrentos, sem as tortas na cara e, principalmente, sem vossos [Expressão de desconfiança] escassos– porém sempre gratificantes – aplausos. Sim, porque de gratificação, só os aplausos, pois salário já tem pra mais de ano que não sinto o cheiro, nem vejo a cor. Sinto só a fome, o frio e a dor.
E com dor me despeço. Do Circo, e portanto, [pausa com olhar panorâmico e profundo sobre a platéia] da vida.
[Morte simbólica com arminha d’água que atiro sobre mim.]

Por Mel Bleil Gallo e Cecília Alvares Côrrea

terça-feira, maio 20, 2008

Seja, ao invés de querer ser!

- Bom dia, flor do dia!

- Bom... quê? Você de novo?!

- Ué, nosso aniversário chegou, né.. quer dizer, teu! Eu continuo com meus cinco aninhos.

- É verdade, cê tá igualzinha ao ano passado. Se tivesse com seis, o cabelo já taria de joãozinho, foi quando peguei piolho...

- Isso! Eu me lembro! Foi o ano da primeira visita. Tu levaste um baita d’um susto!

- Também né, onde já se viu? Parece assombração.

- Mas eu não venho te assombrar, Melzinha... Ao contrário, é pra dar uma luz e ter certeza que tu estás no caminho certo.

- Quem dá luz é poste! Ou mãe...

- Há-Há. Nossa, que piada mais velha. Parece você: 20 anos! Eras, é bom que tu tenhas um prato bem recheado de novidades para me oferecer.

- Ih, tá difícil. Assim, não é que o ano não tenha sido produtivo. Ao contrário: minha psicóloga diz que houve muito progresso; a astróloga falou até do fechamento de um ciclo, e a passagem para o conhecimento interior... Parece que júpiter ia entrar em órbita com Vênus, regido por Saturno.

- Nossa, quanto blábláblá, hein? Quero saber se tu conseguiste fazer aquela bola de hum metro de Bubbaloo.

- Ah! Mas já faz uns três anos que eu te disse que não ia dar. Cê sabe que a Lulu falou que um Bubbaloo equivale a uma refeição inteira... Aí não dá, né?! Tenho que ficar de olho no peso.

- Nossa, não acredito! Mas é verdade, eu reparei que tu deste uma engordadinha nesses anos. Parece que todos aqueles sucos sem açúcar, quilos de legume e arroz integral não ajudaram muito. O que o papai acha disso?

- Ele não se conforma, né! Morre de raiva. Mas eu acho é bem feito... Se ele tivesse deixado ter refrigerante nos meus aniversários, não ia ter criado todo esse prazer pelo proibido. Mas não: só deixava entrar aqueles guaranás Globo. Eca.

- É... mas pelo menos casadinho sempre tinha, que a vovó trazia. Aliás, falando em aniversário, e a festa da pequena sereia, quando é que sai?

- Ah, você só pensa em coisas de criança! Mas pra falar a verdade, esse ano ela sai. Eu até comprei as coisinhas: tem chapeuzinho, brinde, docinhos, pipoca, cachorro quente...

- Puxa, que divertido. Pena que eu não possa ficar... E o que mais tu me contas? E a coleção de selos? O medo de altura? Aquele pé de laranja lima? A criação de feijões? A bolsa amarela? O pacto das amigas para sempre? A coletânea de Legião Urbana e Chico Buarque? As listas dos mil mais e mil menos?

- É, na verdade eu dei uma pausa nessas histórias daí.

- Égua! Por quê?

- É que não dá tempo, tem muita coisa pra fazer...

- Que desculpa mais esfarrapada!

- Ah, e você por um acaso tem a mínima idéia de como é acordar todo dia cedo, dormir tarde, e não conseguir esquecer das contas pra pagar, dos trabalhos pra entregar, dos livros pra ler, das dietas pra seguir, dos amores pra esquecer e da família pra amar?

- ...

- É óbvio que não sabe! Com cinco anos a única coisa que você consegue é cortar a franja no meio da testa e fazer papel de ridícula na frente de todo mundo. Ou então quebrar o vaso, remendar com fita durex, e achar que o papai nunca ia reparar.

- Aí é que tu te enganas. Es tu quem não sabes nada. Eu pelo menos sabia ser feliz: tu pareces ter te esquecido. E se fores esperar teres três vezes 20 anos pra aproveitar a vida e realizar aqueles sonhos de moleca... Já não vais mais ter nem os sonhos, nem a moleca dentro de ti.

- Impossível, posso ter apenas duas décadas, mas tenho todo o sentimento do mundo.

- Sentimento não é igual lamento.

- Nem risada igual à felicidade.

- É Verdade. E agora?

- Bom, das duas uma: ou eu rio menos, ou eu choro mais.

- Não! Chore mais e ria mais. Sonhe mais, realize menos. Pense menos, devaneie mais. Seja, ao invés de querer ser.

quarta-feira, maio 07, 2008

Versinhos

Na revolução dos homens,
Tem porco mais homem que muito cabra.

Estatuto do Mundo de Todo Mundo

Fica decretado que o sol que nasce aqui
é o mesmo que se põe acolá,
Que o calor, a sede e a dor dos filhos daqui
é igual a dos filhos de Alá,
de Jesus e também de Iemanjá,
Que aqueles que matam por terra,
na terra só podem chorar,
Pois a Terra é uma só
onde todos devemos morar.

Fica decretado que dessa terra,
juntos devemos cuidar,
De mãos dadas a caminhar,
os carros pra trás iremos deixar;
Subiremos nas árvores para brincar
ao invés de florestas desmatar;
Encheremos o peito de orgulho,
e não de poluição;
Nadaremos nos rios e mares,
Com medo apenas de tubarão
Mas nada de tóxicos ou comichão.

E quando empanturrados,
de tanto comer McGoiabas e BigMuquecas,
Fica decretado que deitaremos nas redes,
sem ar condicionado, mosqueteiro e repelentes,
Apenas com o vento a cantar em nossas mentes.

Fica decretado que o primeiro papel jogado no chão,
O primeiro átomo de poluição,
O primeiro embrulho de Chicabom,
Assim como o segundo, o terceiro e todos os demais que virão
A partir de agora devem recolhidos,
pra sempre temidos,
e nunca esquecidos.

Fica decretado, por fim, que em nossos sonhos não haverá pesadelos
Com ladrões, bombas e explosões,
Nossas tristezas serão apenas com desamores
ou desilusões.

Pois num mundo que é de todo mundo,
Todos amam e reclamam,
Se alguém algum desses decretos,
Esconde debaixo da cama.

quarta-feira, abril 02, 2008

Perfil Musical ♪

Meu poeta, meu poeta vagabundo..

Resumindo? A garota de ipanema é uma metamorfose ambulante, uma menina-moça, mommy’s little monster, bohemian like you. She walks like she don’t care, meio desligada, com seus Bette Davis eyes of the bluest skies, um jeitinho de Anna Júlia que foi passear com Lucy in the sky with diamonds. Gosta de uns roqueinrôu e uns ié ié ié, e quando feel heavy metal, ainda que don’t feel like dancing, sempre começa a cantarolar em festas estranhas com gente esquisita, onde se sente só, se sente tão sua, e não sabe porque nessas esquinas vê o seu olhar nem porque can’t stop loving you, Mr. Jones – and she didn’t mind, it’s not her kind to wonder why.

Queria ser forever young, pois a vida é pra viver, a vida é pra levar, mas ela sabe que vai te amar, por toda sua vida vai te amar, my darling clementine. E por isso s'est donné rendez-vous à la place des grands hommes, para uma Dernière Danse, pois il faut toujours partir afin de mieux se retrouver, mesmo que mude, que leve na bolsa umas mentiras pra contar e ache isso uma loucura, ainda está aqui, querendote, e acredita que apesar de você estar so far away she just can’t see, ainda tá pensando em every breath she takes e que, maybe, you’re gonna be the one who saves her, com uma bermuda e cara de mistério – trazendo milk and toast and honey, além de guaraná e suco de caju com goiabada para a sobremesa. Ela não resistirá ao bom e velho bob, que faz sempre parte de seu show e - apesar de você ter um cabelo engraçado, ter cavado um abismo com seus pés e a deixar tão à flor da pele - faz a banda passar, guiada por Tieta Eta Eta, like a rolling stone with no direction home.

Porque o mundo é um moinho, e yo sólo quiero saber do que pode dar certo and save tonight. Então hey ho, let’s go: papai me empresta o carro ou lord buy me a Mercedez Benz, pois vamos fugir, sail away pra somewhere only we know, levando conosco somente all that you can't leave behind, pois todo carnaval tem seu fim, e fica tudo escuro e ninguém te ouve. Mais non, rien de rien, je ne regrette rien, and I don’t wanna go home right now, pois alegria é a melhor coisa que existe, and I had the time of my life, que não foi tempo perdido, e por isso pretendo keep on rocking the free world, com these boots that are made for walking!

segunda-feira, março 31, 2008

Telepatia

Momento de profunda introspecção
e pensamentos impróprios,
impronunciáveis, inconfundíveis, imprestáveis.

Insignificância extrema,
filosofia barata.

Procurando saber o que pensam,
dá uma de gata que é morta pela curiosidade.

Seria mais fácil ler pensamentos,
mas e se fossem também lidos meus próprios lamentos?
Despida de máscaras e proteções,
teria de conviver com a reação verdadeira às minhas verdades,
que por vezes ficam bem mais bonitas sob forma de mentiras,
fugas e frágeis disfarces.

Dói menos a aceitação por aquilo que não se é,
que a recusa pelo que se é.
Mas não muito menos.

domingo, março 30, 2008

Pichações.

"Quem faz sentido é soldado,
Quem faz sentir dor é soldado."

Y Qué?

Se te olho,
se me olhas,
se nos olhamos nos olhar.

que olhamos ao pensar?

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

He Wishes for the Cloths of Heaven

by William Butler Yeats, "my Irish poet"

Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

"Maître Puntilla et son valet Matti"

pour Berthold BRECHT, 1940

"L'ivresse fuit.
Le quotidien crie:
Qui vaincra?
A quoi bon gaspiller des larmes inutiles,
Pourquoi verser un pleur sous prétexte que l'huile
Jamais ne réussit à se mêler à l'eau:
Il est temps que tes valets te tournent le dos.
Un bon maître, ils en auront un
Dès que chacun sera le sien."

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

"Deseo solo combatir como un soldado de las ideas"

Mensaje del Comandante en Jefe

Queridos compatriotas:

Les prometí el pasado viernes 15 de febrero que en la próxima reflexión abordaría un tema de interés para muchos compatriotas. La misma adquiere esta vez forma de mensaje.

Ha llegado el momento de postular y elegir al Consejo de Estado, su Presidente, Vicepresidentes y Secretario.

Desempeñé el honroso cargo de Presidente a lo largo de muchos años. El 15 de febrero de 1976 se aprobó la Constitución Socialista por voto libre, directo y secreto de más del 95% de los ciudadanos con derecho a votar. La primera Asamblea Nacional se constituyó el 2 de diciembre de ese año y eligió el Consejo de Estado y su Presidencia. Antes había ejercido el cargo de Primer Ministro durante casi 18 años. Siempre dispuse de las prerrogativas necesarias para llevar adelante la obra revolucionaria con el apoyo de la inmensa mayoría del pueblo.

Conociendo mi estado crítico de salud, muchos en el exterior pensaban que la renuncia provisional al cargo de Presidente del Consejo de Estado el 31 de julio de 2006, que dejé en manos del Primer Vicepresidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. El propio Raúl, quien adicionalmente ocupa el cargo de Ministro de las F.A.R. por méritos personales, y los demás compañeros de la dirección del Partido y el Estado, fueron renuentes a considerarme apartado de mis cargos a pesar de mi estado precario de salud.

Era incómoda mi posición frente a un adversario que hizo todo lo imaginable por deshacerse de mí y en nada me agradaba complacerlo.

Más adelante pude alcanzar de nuevo el dominio total de mi mente, la posibilidad de leer y meditar mucho, obligado por el reposo. Me acompañaban las fuerzas físicas suficientes para escribir largas horas, las que compartía con la rehabilitación y los programas pertinentes de recuperación. Un elemental sentido común me indicaba que esa actividad estaba a mi alcance. Por otro lado me preocupó siempre, al hablar de mi salud, evitar ilusiones que en el caso de un desenlace adverso, traerían noticias traumáticas a nuestro pueblo en medio de la batalla. Prepararlo para mi ausencia, sicológica y políticamente, era mi primera obligación después de tantos años de lucha. Nunca dejé de señalar que se trataba de una recuperación "no exenta de riesgos".

Mi deseo fue siempre cumplir el deber hasta el último aliento. Es lo que puedo ofrecer.

A mis entrañables compatriotas, que me hicieron el inmenso honor de elegirme en días recientes como miembro del Parlamento, en cuyo seno se deben adoptar acuerdos importantes para el destino de nuestra Revolución, les comunico que no aspiraré ni aceptaré- repito- no aspiraré ni aceptaré, el cargo de Presidente del Consejo de Estado y Comandante en Jefe.

En breves cartas dirigidas a Randy Alonso, Director del programa Mesa Redonda de la Televisión Nacional, que a solicitud mía fueron divulgadas, se incluían discretamente elementos de este mensaje que hoy escribo, y ni siquiera el destinatario de las misivas conocía mi propósito. Tenía confianza en Randy porque lo conocí bien cuando era estudiante universitario de Periodismo, y me reunía casi todas las semanas con los representantes principales de los estudiantes universitarios, de lo que ya era conocido como el interior del país, en la biblioteca de la amplia casa de Kohly, donde se albergaban. Hoy todo el país es una inmensa Universidad.

Párrafos seleccionados de la carta enviada a Randy el 17 de diciembre de 2007:

"Mi más profunda convicción es que las respuestas a los problemas actuales de la sociedad cubana, que posee un promedio educacional cercano a 12 grados, casi un millón de graduados universitarios y la posibilidad real de estudio para sus ciudadanos sin discriminación alguna, requieren más variantes de respuesta para cada problema concreto que las contenidas en un tablero de ajedrez. Ni un solo detalle se puede ignorar, y no se trata de un camino fácil, si es que la inteligencia del ser humano en una sociedad revolucionaria ha de prevalecer sobre sus instintos.

"Mi deber elemental no es aferrarme a cargos, ni mucho menos obstruir el paso a personas más jóvenes, sino aportar experiencias e ideas cuyo modesto valor proviene de la época excepcional que me tocó vivir.

"Pienso como Niemeyer que hay que ser consecuente hasta el final."

Carta del 8 de enero de 2008:

"...Soy decidido partidario del voto unido (un principio que preserva el mérito ignorado). Fue lo que nos permitió evitar las tendencias a copiar lo que venía de los países del antiguo campo socialista, entre ellas el retrato de un candidato único, tan solitario como a la vez tan solidario con Cuba. Respeto mucho aquel primer intento de construir el socialismo, gracias al cual pudimos continuar el camino escogido."

"Tenía muy presente que toda la gloria del mundo cabe en un grano de maíz", reiteraba en aquella carta.

Traicionaría por tanto mi conciencia ocupar una responsabilidad que requiere movilidad y entrega total que no estoy en condiciones físicas de ofrecer. Lo explico sin dramatismo.

Afortunadamente nuestro proceso cuenta todavía con cuadros de la vieja guardia, junto a otros que eran muy jóvenes cuando se inició la primera etapa de la Revolución. Algunos casi niños se incorporaron a los combatientes de las montañas y después, con su heroísmo y sus misiones internacionalistas, llenaron de gloria al país. Cuentan con la autoridad y la experiencia para garantizar el reemplazo. Dispone igualmente nuestro proceso de la generación intermedia que aprendió junto a nosotros los elementos del complejo y casi inaccesible arte de organizar y dirigir una revolución.

El camino siempre será difícil y requerirá el esfuerzo inteligente de todos. Desconfío de las sendas aparentemente fáciles de la apologética, o la autoflagelación como antítesis. Prepararse siempre para la peor de las variantes. Ser tan prudentes en el éxito como firmes en la adversidad es un principio que no puede olvidarse. El adversario a derrotar es sumamente fuerte, pero lo hemos mantenido a raya durante medio siglo.

No me despido de ustedes. Deseo solo combatir como un soldado de las ideas. Seguiré escribiendo bajo el título "Reflexiones del compañero Fidel" . Será un arma más del arsenal con la cual se podrá contar. Tal vez mi voz se escuche. Seré cuidadoso.

Gracias

Fidel Castro Ruz

18 de febrero de 2008
5 y 30 p.m.


(fonte: http://www.granma.cu/espanol/2008/febrero/mar19/mensaje.html)

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

"L'écrivain public"

pour Juliet O'Brien

"Dans mon pays il n'y a pas des registres de décès, parce que officiellement on n'y meurt pas."

Sonhar não tão acordada.

Hoje devo ter ficado umas três horas na cama naqueles estado de sonhar acordado. E era tão bom, porque eu ia conduzindo o sono ao meu bem entender, e ainda tinha aquele gostinho de que era real, que estava acontecendo.

Deveria escrever um livro com a história. Mas não sei se quero compartilha-la... é tão boa. De qualquer forma, a noite já chegou, e quem sabe não tiro a sorte grande e volto a sonhar com o sonho que tenho.

Hmm..

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

As aparências enganam!

Desde a morte de Heath Ledger - tristemente decifrada na televisão de um Mc Donalds romeno - poucas coisas me afetaram tanto. Passei batida por escândalos da Viradouro, da Mangueira e até mesmo pela revelação feita pela ONU de que o tabaco é a causa de 10% das mortes adultas. Mas dessa vez, não me contive.

Todo mundo já se apaixonou por uma música. Meninas flor-do-campo, então, nem se fala. Com a Carla Bruni, foi algo assim. Ela tava lá, com aquela voz meio rouca, a cantarolar e runrunar sobre "nos chagrins et nos amours"... e eu caí.

Depois você procura conhecer melhor aquela pessoa que ocupa lugar de honra no som - ainda não roubado - do seu carro. E qual minha surpresa ao encontrar nela ideais dignos de uma esquerda solidária e consciente. Fazia propaganda para minhas alunas, ávidas por boas coisas da língua francesa! Junto a Amélie, Les Choristes e Kyo, Carla era minha marca registrada. Ah, era bom demais! Bom demais para ser verdade.

Minha mãe ainda tentou se servir de eufemismos: o gato subiu no muro, o gato vai pular, o gato foi dessa pruma me..... meeeu deus do céu! Casaram! Foi um choque. De beijocas e flashes na Disney, a italianinha passou à Primeira Dama da França. E ao lado de quem? Daquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado.

Não se fazem mais ídolos como antigamente.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

E viva a macumba!

Parece que os rituais deram certo - tá, pelo menos algum deles, 'por via das dúvidas' continuarei praticando todos.

Tudo começou hoje à tarde, quando fui trocar um presente de natal. Cheguei à loja, e qual minha surpresa ao descobrir que ela estava em liquidação, fazendo com que pudesse comprar duas peças pelo preço da que tinha ganho.

Logo depois, quando fui às tentadoras Lojas Americanas comprar algum CD em conta para dar de presente de natal, me deparei - ah, momento de grande emoção! - com o DVD do Fabuloso Destino de Amélie Poulain por - veja bem, veja bem! - apenas 12,90. Ah. O êxtase. Nirvana e seu estágio de Ohm atingidos! Um parênteses: me pergunto o que Buda diria de minha espiritualidade, satisfeita com um mero bem material. Ao que responderia, brevemente, que Amélie está longe de ser "um mero bem", quanto menos restrito ao campo material. "C'est la crème de la crème".

Agora, para completar o paraíso astral, só falta o Mr. Darcy bater à minha porta.
Tá, vai, aceito um telefonema.

Idéia de personagem pra livro imaginário 1

Bubu.

Senhora, de meia idade. Carioca. Boa de samba e amiga dos cobradores de ônibus. Boa de papo. Barraqueira. Sorriso malicioso, brincalhão. Eshperta. Negona, com "mechas" descoloridas com água oxigenada. Se bronzeia com o óleo Cenoura e Bronze fator 0,5. Carinhosamente apelidada pelo marido - Seu '....', tipo engraçado, magrelo, grande apreciador do fluminense e das regatas brancas, com manchas de gordura - em razão de seu porte avantajado: bubu, de butijãozinho.

terça-feira, janeiro 01, 2008

Em 2008 os astros não conspiram

Quanto menos acredito em religiões, fés e afins, mais me deparo com pequenas superstições. É sempre aquela velha história: "só por via das dúvidas..."

Então, pelo sim, pelo não, ontem foi dia de pôr tudo em prática. Depois de ter (re)feito meu mapa astral, vesti calcinha rosa para o amor, vestidinho branco para a paz, pulseira verde pela esperança e sandália dourada pra prosperidade. Comi lichia e brindei champagne. Joguei pro ar (depois de perder um, apenas) dois caroços de romã e li a tal prece dos três magos. E, pra finalizar, dei uma rosa branca pra Iemanjá, e pulei as três ondinhas.

Ainda pra não arriscar, comecei o ano com festa, roda de samba e muita alegria.

Ou seja, se algo der errado a culpa é toda minha, porque dessa vez os astros não têm como (!) conspirar.