domingo, outubro 26, 2008

Eleições 2008

O povo paulistano é que sabe,
se escolheu Kassab,
agora é ir aguentando...
relaxando e gozando!

Por no mínimo quatro anos;
ou enquanto o DEMônio durar.

Panquecas

Viver é que nem aprender a fazer panquecas.

Na primeira vez, você prepara uma receita dupla para ir experimentando, na certeza de que pelo menos metade vai se perder. Depois de bater todos os ingredientes no liquidificador - na dúvida cruel se o sal a gosto está mais a gosto ou mais a desgosto - você se diz: "quer dizer que agora é só fritar?!".

Queimado engano. Há toda uma técnica por detrás do movimento "despeja concha na frigideira anti-aderente presente da amiga querida + espera bordas estarem secas e bolhas aparecerem no meio + vire a panqueca + está deliciosa, prontinha pra servir".

Você despeja uma concha cheia. Acha que não é suficiente, bota um pouco mais. Passam dois minutos e, apesar das bordas sequinhas e incontáveis bolhas, a panqueca parece não querer desgrudar. Você tenta um pouquinho, com uma delicadeza contestável. A panqueca quebra. Não tem volta. Bota no prato, tenta juntar, não dá jeito.

Passa à segunda concha. Dessa vez pinga uma gota de óleo na frigideira, como quem não quer nada. "Agora ela solta! Já me disseram que a liga com farinha integral é mais difícil mesmo!" E ela até solta um pouquinho. Você se anima. Consegue levantar mas, diacho, ela quebra em vários pedaços molengas impossíveis de se remendar.

Enchida a terceira concha, percebe que se fizer uma camadinha mais fina, ela desprega mais facilmente. A partir daí, tudo fica mais fácil. Uma, duas, três panquecas prontas! Na quarta a segurança já é tanta que você se atreve a ir pro computador enquanto ela frita... ousado atrevimento. Eis uma panqueca queimada.

Depois ainda vêm outras preocupações: recheio, calda, tempo ao forno. Mas é tudo um aprendizado. E, no final, você se depara com quatro panquecas super apetitosas. E um estômago embrulhado. Ah, salgadas ironias do destino. Deixa o tempo passar até que a fome volte. Mais tarde, se delicia com aquele improviso. O resultado é tão bom que você se pega tentando uma receita de bolo de banana!

Incertezas, insegurança, excesso de segurança, ironias, felicidade e recomeços. Um círculo virtuoso. Quase à la Rei Leão e seu ciclo da vida...

quarta-feira, outubro 15, 2008

segunda-feira, outubro 13, 2008

Pague 1, leve 2

Monólogo de Oficina de Interpretação.

Tem coisa melhor que dia dos namorados? Todo mundo apaixonado, e as lojas todas ajudando. Nunca vi tanto "Pague 1, leve 2" na vida. Só tem uma condição: mostrar certificado de feliz para sempre e de namorado presente.

Outro dia fui na creperia e tinha lá, com letras vermelhas e corações múltiplos: "No dia dos namorados venha com seu amor e pague apenas metade do preço!"

Aí eu fui! Ia com um amigo, mas ele arranjou oooutro amigo... e eu acabei indo sozinha. Pensei em comer um daqueles crepes de massa integral, com salada e carne magra, para não engordar muito, né?! Senão, aí é qu'eu nunca arranjo um namorado.

Mas a garçonete me olhou com uma cara de desprezo tão grande, que eu mudei de idéia. Pra quê?! Achei que fosse entrar em depressão. De um lado, casais apaixonados. De outro, maaais casais apaixonados. E na minha frente, uma bomba calórica.

A solução foi olhar para cima e fingir que não estava nem aí. Que era melhor que toda aquela indústria capitalista, que só pensa em vender. Vender corações, ursinhos, chocolates, abraços e amor. Onde é que se vende amor? Me fala que eu vou lá comprar. Agora mesmo! Mas tem que ter garantia infinita de não-enrolação, não-traição, não-chateação... e não-abandono.

Enquanto não acho a loja do amor, me contento com creperias. Fui ao caixa pagar a refeição. Qual não foi minha surpresa, então, quando a mulher quis cobrar a conta toda:
"Um crepe de Strogonoff, mais um de Nutella com morangos e duas Cocas Zero... dá R$26,90." Me assustei.
"Mas moça, e a promoção?!" Adivinha o que a descarada me respondeu:
"É só pros namorados, dona!" Não acreditei. Como assim?! Ainda mais que eu tinha comido tudo em dobro só pra participar...
"Ué, imagina se eu fosse dar crèpe de graça pra todo guloso que vem aqui?!" Céus! Ainda por cima me chamou de gorda. Isso porque eu nem tô tomando refrigerante.. só Coca zero. Ai ai, quanta indelicadeza.

Resolvi deixar pra lá. Já podia sentir os olhares dos casaizinhos grudi-grudi que pairavam sobre mim. Mas também, aprendi minha lição: nunca mais volto naquela creperia! Quer dizer, pelo menos não solteira!

Strong personality

"Valid during several weeks:

At this time of year, you will become more concerned with personal matters and less with the world at large. You can project yourself with more forcefulness than usual. It is an excellent time for making an impression on others, but you must be careful because you will not be especially sensitive to their needs. For this reason, you may find it difficult to work with others during this transit.

If your efforts to work on projects with others don't seem to get anywhere now, perhaps you should defer them until later. First you should take care of the proper business of this transit, which is to experience yourself in a subjective frame of reference.

You have a great need to express yourself now, and it is a valid need. No purpose will be served by denying all your own needs in favor of a misguided concept of duty."

Nem todo horóscopo é feito por sorteio pro jornal do dia.

domingo, outubro 05, 2008

A Inclusão Social na segurança do jornalista

Estudo de caso: Seqüestro dos jornalistas de “O Dia”, em 14/05/2008

A reportagem seria um estouro: depois de duas semanas inseridos no dia-a-dia da favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a repórter, o fotógrafo e o motorista do jornal O Dia tinham material suficiente para delatar a atuação corrupta e ditatorial da milícia controladora daquela favela.

Em apenas sete horas, a reviravolta. Os jornalistas passaram de heróis da notícia a vítimas da Barbárie por eles tanto criticada. Tortura, abuso de autoridade e humilhação foram as armas que os “bandidos que usam farda nas horas vagas”[1] empregaram contra a informação. O Sindicato dos Jornalistas classifica a violência como “um dos mais graves atentados à liberdade de informação”. O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, aconselha a redução da cobertura das favelas cariocas. Tal redução implicaria em conseqüências bastante delicadas: não seria a violência resultado da marginalização proporcionada pela própria mídia, contra as favelas e periferias? E, assim sendo, uma diminuição da cobertura, ou – em outras palavras - imposição de uma autocensura, não daria continuidade ao círculo vicioso marginalização – violência - marginalização?

Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), coloca que “a missão do jornalista não é morrer, mas não se pode recusar a fazer uma cobertura porque o nosso trabalho é uma atividade de risco. Essa tese de que não se pode cobrir certas áreas significa imposição de autocensura” [2].

Como conciliar, então, a proteção efetiva dos jornalistas e uma cobertura completa de todas as esferas da sociedade? Ou, como coloca o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, como encontrar “um meio de a imprensa cumprir seu papel de informar com responsabilidade garantindo a integridade de seus jornalistas”[3]. Antes de tudo, cabe ressaltar quais os dois principais empecilhos para a uma eventual conciliação: (1) a ausência de interesse comercial na periferia (tanto enquanto público-alvo como valor-midiático), que culmina na falta de cobertura local; (2) e as exceções à regra – apelidadas de “infantaria do jornalismo” – que, sem a menor retaguarda, enfrentam a “missão” [4] de trazer à mídia uma abordagem autônoma e livre da periferia, que difira do estado de “terror e medo” pautado pelo “corporativismo da política, da mídia e da milícia”[5]. Tais exceções, apesar de poderem apresentar resultados heróicos, muitas vezes culminam em tragédias como esta e a de Tim Lopes – a qual completou, coincidentemente, seis anos no dia do ato de repúdio ao seqüestro dos jornalistas de O Dia.

Existem ainda, certamente, aqueles profissionais sedentos por prêmios e grandes furos. Nestes, a busca por reconhecimento e audiência supera escrúpulos e prudência, e qualquer discussão acerca de sua segurança necessitaria outra abordagem. Tratemos apenas daqueles comprometidos com a informação e o interesse público – não necessariamente “do público”.

Medidas como a “instalação de comissões de segurança nas redações, formadas por jornalistas que fiscalizem as medidas de proteção à vida e que avaliem os riscos de cada cobertura”, são velhas reivindicações do Sindicato, “o pior caminho para a imprensa será deixar que a tortura de Realengo atinja o objetivo dos torturadores: calar o jornalismo” [6]. “Para combater o crime organizado, faz-se necessária uma redação organizada”[7]. Esse objetivo só pode ser alcançado quando certos paradoxos forem vencidos: em uma sociedade tecnologicamente avançada como a nossa, onde até cachorros podem ser monitorados, o único impedimento restante à segurança dos jornalistas é o descaso. A famosa falta de interesse econômico.

Falta aos donos e diretores dos meios de comunicação a compreensão desse círculo vicioso: é do interesse da população em todos os âmbitos - economia, segurança, cidadania – que se insiram as camadas marginalizadas na agenda da mídia, e – principalmente – que esse agendamento seja positivo e não reforce ainda mais os estereótipos tradicionalmente transmitidos de criminalidade e pobreza. Somente com inclusão social e a realização de uma política de segurança para os jornalistas empenhados com essa causa, tragédias como a que atingiu os jornalistas do periódico O Dia poderão ser evitadas.



[1] Comunique-se, 31/05/2008

[2] O Dia, 06/06/2008

[3] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas, 02/06/2008

[4]O Dia, 06/06/2008

[5] BENTES, Ivana. “Mídia e Política”, Carta Capital, 17/06/2008

[6] Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em Carta aos jornalistas, 02/06/2008

[7] Luiz Martins da Silva, Professor da UnB