quarta-feira, dezembro 05, 2007

"Você se esconde atrás dos livros"

Livros são sempre tão coerentes. Têm sua capinha - às vezes meio capenga, certo -, e várias páginas. Com letras, rodapés, números nos cantos e de quando em vez até desenhos. Desenhos, veja você! Quanto requinte, quanta arte.
Alguns, mais tradicionais, seguem a regra do índice, introdução, desenvolvimento, conclusão, notas, bibliografia, e bate-papo com o autor - espaço especialmente dedicado pra colocar a foto de alguém meio cult, de sorriso ou ar introspectivo, com sua pose espontaneamente forjada. Se fosse uma escritora tomaria muito cuidado com minha foto, mas isso não vem ao caso.
Somente os livros vêm. E vêm aos montes. Nossa, sortudo aquele que não tem ataques compulsivos dentro de um sebo com cheirinho de livros velhos, cheios de histórias e manchas de lágrimas, café, chocolate, chá de jasmim, e colônia alfazema. Ou, então, o que entra em uma Fnac ou Cultura sem vontade de levar (quase) tudo que vê pela frente.
Como há muito não me considero uma pessoa de grande sorte - sim, houve a época áurea em que ganhava promoções do álbum de figurinha da barbie, sorteio de um pacote de arroz e uma pochete na festa de San Genaro, e até mesmo, pasmem vocês, vale-livros no cartão de fidelidade - sou justamente o oposto dos indiferentes a sebos e grandes livrarias.
Assim, como haveria eu de encontrar esconderijo melhor do que atrás dos meus livros? Que lugar, ou até pessoa, seria capaz de me proporcionar momentos de distração como Gabriel García Marquez, de discussões profundas dignas d'Os Pensadores, Jostein Gaardner e Herman Hesse, de risos com Luis Fernando Veríssimo, de lágrimas com Primo Levi e Steinbeck, de paixões com Austen e seu Mr. Darcy, ou Mirian Keynes e a Melancia, de ousadia com Hilda Hilst e a Gabriela de Jorge Amado, de poesia com Quintana e Jorge Luis Borges, de indignação com Galeano e Graciliano, e de nostalgia com Erico Veríssimo?
Duvido até do mais interessante e intenso amor. Da mais bela amizade. Do mais recompensador trabalho. Desafio todos e quaisquer uns. E na falta de cavalheiro disposto a enfrentar os homéricos desafios, sigo cá, escondidinha.

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