sexta-feira, junho 13, 2008

Um Tibete acorrentado

Com a chegada das olimpíadas de Beijing, as lentes se voltam para a região não tão autônoma do Tibete


Resta saber o que é mais resistente: o metal das grades que começam a enferrujar, ou a força do grito deles, dos gritos nossos.


A menos de dois meses dos tão aguardados Jogos Olímpicos de Pequim, era de se esperar que os burburinhos girassem em torno dos bilhões de Yuans gastos para convencer o mundo do surgimento de uma nova potência. Graves violações de direitos humanos, como patrocínio de chacinas sudanesas, exploração do campesinato, aplicação de métodos questionáveis no controle de natalidade, e intensa censura poderiam ser apenas detalhes. Mas não foram: o showrnalismo - ora péssimo, ora muito conveniente - não permitiu.

Tudo começou quando Steven Spielberg, com medo de tornar-se uma Leni Riefenstahl moderna, recusou o convite de filmar as olimpíadas. Depois veio a denúncia: para vencer a corrida pelo ouro contra os Estados Unidos, a China adotara sistema exploratório e desumano no treinamento de atletas.

“Desumano”: palavra de impacto. Tanto impacto que foi incorporada por outras reivindicações, em especial pela já quinquagenária luta separatista tibetana. Budistas pacíficos, seguidores de Dalai Lama, arriscaram protestos e sofreram com a violenta represália.“Libertem o Tibet”, “livrem-no dos grilhões chineses”, “afrochem as amarras imperialistas!” foram e continuam sendo entoados. Os gritos de guerra ecoam por toda a parte, inclusive na fotografia. O resultado? Certo realismo com um quê de simbólico, perfeito para o fotojornalismo artístico, saltitante aos olhos e às mentes inquietas.

O grito ecoa, é propagado. Nós ouvimos, fazemos passeatas e, até mesmo, abaixo-assinados. Mas ele não consegue deixar a parede: as correntes não permitem. Os meios de comunicação vão parar detrás das grades. A voz é abafada. O grito é mantido. Enrouquece. Resta saber o que é mais resistente: o metal das grades que começam a enferrujar, ou a força do grito deles, dos gritos nossos.

2 comentários:

Edmar Ruvsel disse...

Todas as formas de opressão me passam a imagem de imperialismo!
Todas as formas de ir contra ela me passam a imagem de hipocrisía.
Todas as letras desse artigo me passam uma imagem utópica

Camila Barbalho disse...

O 'showrnalismo', no fundo-bem-fundo, é um mal necessário. Principalmente quando abre os olhos pra cenas horríveis como essas.
Excelente artigo, filhota. Como sempre, me deixando orgulhosa =D