- "Olha, o senhor pega a Santos Dumont, e daí, assim que puder virar pra lá.."
- "Prali?!" pergunta o motorista de taxi, apontando pra esquerda.
- "Sim, ali, na Chevrolet. Daí, desce, e já vira na próxima pra pegar a Andrade Furtado, porque a Otávio Lobo não desce" diz a menina que, alertada sobre o cárater dos taxistas, não pestaneja ao indicar o caminho desconhecido. Repete a fórmula mágica ensinada pela tia. E reza para que não haja contratempos e perguntas embaraçosas.
- "Ih, aqui tá fechado. Esses animais, fecham a rua por tudo quanto é besteira! No outro governo não era assim não. A senhora (!) prefere que pegue a Expressa ou pelo Papicú?" indaga o nada bendito.
- "Ehh.." suspira a menina com ar de mulher, mãe de oito filhos, com a segurança de uma avó. Tem a mão no queixo, uma expressão de quem reflete seriamente os altos e baixos de cada caminho, e um olhar aflito de quem pode pôr tudo a perder. Lembra vagamente que a Expressa é a via que pegou vindo do aeroporto, do oooutro lado. Mas, se ela é lá, imagina onde seria o Papicú?! Em menos de hum segundo passam por sua cabeça os pensamentos mais absurdos, inclusive uma saudade da terra das quadras, lotes, conjuntos, blocos, tesourinhas e pontes. Ruas, pra que as quer.
- "Ah, o que o senhor acha melhor a essa hora? Esse congestionamento.."
- "Olha, não sei! Vou perguntar aqui presse entregador de pizzas!"
Se até ele pergunta, por que não arriscar:
- "Moço, o que é esse tal de Papicú?" ela diz ao sair, com desastre de 12 anos.
- "Mas minha filha?!" ele ri meio debochado "é esse bairro da sua casa!"
- "Ahh, mas isso eu sabia.. é que achei que fosse indígena e tivesse um significado.."
- "Ah, isso eu não sei não senhora!" resmunga o velho meio encabulado.
- "Tá bom. Tenha um bom dia, viu?" sorri a menina, crente que engana até ela mesma com esse ar de gente segura.
- "Preciso de um mapa" se diz ela.
quarta-feira, julho 11, 2007
Papicu?
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terça-feira, julho 10, 2007
como eu queria não ser gente. gentalha. canalha.
quarta-feira, julho 04, 2007
"Agora já passa da hora,
tá lindo lá fora
Larga a minha mão,
solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão"
Ah, o verão.
tá lindo lá fora
Larga a minha mão,
solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão"
Ah, o verão.
quinta-feira, junho 21, 2007
Cheio dum nada.
Volta e meia tem um romance sobre um cara que não sente. O tal do homem-massa, apático a tudo. Ele acorda, escova os dentes, trabalha, come, volta pra casa, dorme, acorda, escova os dentes.. e não vive. Todo dia é igual, e ele não percebe o tanto que as coisas andam, mudam, passam. O quanto que ele é vazio.
Mas será que ele é mesmo vazio?
Ou vazia seria eu, por pensar ter algo - ainda que apenas a consciência de não ter nada!
Deve ser deveras mais simples passar pela vida sem sentir, a acordar todo dia de manhã e - antes mesmo de abrir os olhos - já pensar: como fazer pra chegar ao fim do dia sem explodir de sentimentos? Como parar de procurar, nos murais do mundo, um anúncio merecedor de minha atenção? Como não atiçar os ouvidos em busca de algo mais interessante? Como não pensar nesse constante pensar que nos aflige?
Ou, melhor, que me aflige.. afinal, o tal do herói do filme não sente,
sinto muito.
Mas será que ele é mesmo vazio?
Ou vazia seria eu, por pensar ter algo - ainda que apenas a consciência de não ter nada!
Deve ser deveras mais simples passar pela vida sem sentir, a acordar todo dia de manhã e - antes mesmo de abrir os olhos - já pensar: como fazer pra chegar ao fim do dia sem explodir de sentimentos? Como parar de procurar, nos murais do mundo, um anúncio merecedor de minha atenção? Como não atiçar os ouvidos em busca de algo mais interessante? Como não pensar nesse constante pensar que nos aflige?
Ou, melhor, que me aflige.. afinal, o tal do herói do filme não sente,
sinto muito.
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sábado, junho 09, 2007
Sala de Espera da vida.
"Soap Opera Woman: Excuse me.
Wiley: Excuse me.
Soap Opera Woman: Hey. Could we do that again? I know we haven't met, but I don't want to be an ant. You know? I mean, it's like we go through life with our antennas bouncing off one another, continously on ant autopilot, with nothing really human required of us. Stop. Go. Walk here. Drive there. All action basically for survival. All communication simply to keep this ant colony buzzing along in an efficient, polite manner. "Here's your change." "Paper or plastic?' "Credit or debit?" "You want ketchup with that?" I don't want a straw. I want real human moments. I want to see you. I want you to see me. I don't want to give that up. I don't want to be ant, you know?"
E quantas vezes eu já não me prometi experimentar isso, na esperança de encontrar algo mais do que formigas com antenas balançando, vendo tudo passar - embora ciente do fato de que "o maior erro que podemos cometer é achar que estamos acordados quando, na realidade, estamos é dormindo na sala-de-espera da vida!"
Wiley: Excuse me.
Soap Opera Woman: Hey. Could we do that again? I know we haven't met, but I don't want to be an ant. You know? I mean, it's like we go through life with our antennas bouncing off one another, continously on ant autopilot, with nothing really human required of us. Stop. Go. Walk here. Drive there. All action basically for survival. All communication simply to keep this ant colony buzzing along in an efficient, polite manner. "Here's your change." "Paper or plastic?' "Credit or debit?" "You want ketchup with that?" I don't want a straw. I want real human moments. I want to see you. I want you to see me. I don't want to give that up. I don't want to be ant, you know?"
E quantas vezes eu já não me prometi experimentar isso, na esperança de encontrar algo mais do que formigas com antenas balançando, vendo tudo passar - embora ciente do fato de que "o maior erro que podemos cometer é achar que estamos acordados quando, na realidade, estamos é dormindo na sala-de-espera da vida!"
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Entre as aspas
quinta-feira, maio 31, 2007
Algum veneno anti-monotonia?
"E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia...
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio
O mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria..."
E essa novidade que insiste em vestir a roupa de rotina, e dar uma de bicho papão pra cima da gente. No seu saco, ao invés de prender levadas criancinhas, carrega o peso de nosso desânimo e descrença. E ainda dá o ar da graça em nossos ouvidos: mais um dia se passou, nada aconteceu.
Devia ser deveras mais fácil acordar todos os dias em tempos revolucionários - ou até mesmo de guerra - e ter algo em quê acreditar. Uma causa pela qual lutar.. algo diferente dessa coisa enlatada, preparada: Chê guevara no botton, Chico nas maiores gravadoras, e o amor da sua vida só a te esperar no Bate-Papo da UOL.
Somos livres pra tudo, e descobrimos não querer nada.
O que há de faltar?
Falta graça no trabalho, no estudo, nos amigos, nas conversas, nos debates, nas coisas. Falta um veneno anti-monotonia, um beijo com gosto de café, uma revolução com gosto de sonho, um dia com jeitinho de quero mais.
Falta parar de tentar as palavras certas, pras horas em que o silêncio é tudo o que deveria ser dito.
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia...
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio
O mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria..."
E essa novidade que insiste em vestir a roupa de rotina, e dar uma de bicho papão pra cima da gente. No seu saco, ao invés de prender levadas criancinhas, carrega o peso de nosso desânimo e descrença. E ainda dá o ar da graça em nossos ouvidos: mais um dia se passou, nada aconteceu.
Devia ser deveras mais fácil acordar todos os dias em tempos revolucionários - ou até mesmo de guerra - e ter algo em quê acreditar. Uma causa pela qual lutar.. algo diferente dessa coisa enlatada, preparada: Chê guevara no botton, Chico nas maiores gravadoras, e o amor da sua vida só a te esperar no Bate-Papo da UOL.
Somos livres pra tudo, e descobrimos não querer nada.
O que há de faltar?
Falta graça no trabalho, no estudo, nos amigos, nas conversas, nos debates, nas coisas. Falta um veneno anti-monotonia, um beijo com gosto de café, uma revolução com gosto de sonho, um dia com jeitinho de quero mais.
Falta parar de tentar as palavras certas, pras horas em que o silêncio é tudo o que deveria ser dito.
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sexta-feira, maio 25, 2007
Comedida.
O que chama mais atenção, o grito ou o calar?
Quero crer que nunca soube comedir o barulho e sua falta.
Eu e minha paradoxal extroversão, regada de uma baita introspecção.
É.
É?
"..."
Quero crer que nunca soube comedir o barulho e sua falta.
Eu e minha paradoxal extroversão, regada de uma baita introspecção.
É.
É?
"..."
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Versificando
quinta-feira, maio 24, 2007
Jardim de flores amarelas.
A rotina sempra acaba por adentrar nossos dias, aquilo que há um minuto era um sonho, neste já é mais do mesmo.
Você dirige buscando coisas, cogitando pular do carro e ir nadar no céu que veio no lugar do mar. Anda buscando vida, sorrindo para pessoas, esperando que em meio à frieza já tão quotidiana alguém seja espontâneo e, irreverente, desrespeite a ordem do arquiteto. Traga à tona todo o caos sentido, que todos fingem acreditar camuflado.
Até que você tropeça, e nas crianças descobre uma casinha, com jardim de flores amarelas e felicidade. Felicidade de quem ainda não aprendeu as artimanhas do mundo ordenado, protocolado, e ... insosso.
Você dirige buscando coisas, cogitando pular do carro e ir nadar no céu que veio no lugar do mar. Anda buscando vida, sorrindo para pessoas, esperando que em meio à frieza já tão quotidiana alguém seja espontâneo e, irreverente, desrespeite a ordem do arquiteto. Traga à tona todo o caos sentido, que todos fingem acreditar camuflado.
Até que você tropeça, e nas crianças descobre uma casinha, com jardim de flores amarelas e felicidade. Felicidade de quem ainda não aprendeu as artimanhas do mundo ordenado, protocolado, e ... insosso.
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terça-feira, setembro 19, 2006
E no princípio...
tudo era nada!
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