quarta-feira, dezembro 10, 2008

Tropeços

Casamento do tio em Búzios, coisas da burguesia.

Família em processo de separação, "é importante estarmos juntos nessas horas", diz a avó por parte de madrasta, "eu e seu avô fizemos as contas e dá pra comprar sua passagem, você vem né? A gente entende se tiver muito ocupada, mas nós queremos muito que você venha", insiste.

Então eu vou, saio na sexta pra voltar terça. Pego um frescão direto pra Copacabana. Maravilha de transporte público, ah se Brasília tivesse um desses. E sigo curtindo o Ipod enquanto passam à minha frente favelas, os Arcos da Lapa, Botafogo, e a Avenida Atlântica. No caminho, ainda ajudo uns turistas franceses. "Francês é foda", reclama um passageiro, "só sabe falar a língua dele e se recusa a aprender inglês, e ainda por cima fica puto quando tu vai ajudar! É foda!"

Desço na Bolívar. São umas 21h30, os bares estão cheios. Bem que Brasília podia ser assim, cerveja com gente bonita e despojada para todo o lado - pra lá da 1h da manhã. "Tem uns barzinhos novos por aqui... esse Espelunca tá com uma cara ótima!". Chego em casa. Aquele abraço na família, papai tá passando pra gente ir jantar.

Vamos a pé mesmo, tudo pertinho. No Espelunca mesmo. Comemos aquela costelinha na entrada, com um molho agridoce fantástico. Rola um sushi no prato principal. Meu pai e meu primo, pra completar, ainda atacam um carneirinho. Estou tranquila, só no choppinho. "Pô, bonzão esse lugar, hein!" finaliza satisfeito meu pai, pouco antes de pagar a conta, não tão boa assim.

No caminho de casa, um tropeço. Um menino, semi-despido, deitado sobre o ventilador de rua. Uma mistura de braços, pernas, mãos, e costelas.

Esta mesma noite minha tia, quando questionada sobre suas impressões iniciais da recente mudança para o Rio de Janeiro, prontamente responde: "Ah, é nojento, cara! Puta que o pariu! Cê sai de manhã e tropeça no moleque que dorme na frente do teu prédio, pô! Rua não é lugar de ninguém dormir não. Me embrulha o estômago, é muito pobre pra todo lado! Lá em Brasília é tudo camuflado, tudo limpinho."

O sushi, o avião, o choppinho... tudo começa a se revirar em meu estômago. Me dá um enjôo da vida; do despudorado exposto, do cruelmente camuflado. Meu pai me oferece seu casaco, não controlo o choro. Como poderia sentir frio enquanto o moleque dorme ao relento, encolhido na esperança de que, menor o corpo, menor o frio?

Lágrimas, náuseas. Uma tremida de indignação, perante apenas mais uma das injustiças do mundo. Meus companheiros, cadê? Na praia, afogando as mágoas nas ondas e na cerveja gelada. O Rio de Janeiro continua lindo. E nojento. É foda!

3 comentários:

Núcleo de Treinamento de Eficiência Enegética disse...

como as crianças...
que têm algo de puro na alma...
e conservam a capacidade de não se acostumar com o mundo...

depois crescem
ficam nojentas
é foda

Núcleo de Treinamento de Eficiência Enegética disse...

eitah eh lara heheheh

Diana disse...

foda mesmo, prima...
poxa...
fiquei triste.