terça-feira, maio 20, 2008

Seja, ao invés de querer ser!

- Bom dia, flor do dia!

- Bom... quê? Você de novo?!

- Ué, nosso aniversário chegou, né.. quer dizer, teu! Eu continuo com meus cinco aninhos.

- É verdade, cê tá igualzinha ao ano passado. Se tivesse com seis, o cabelo já taria de joãozinho, foi quando peguei piolho...

- Isso! Eu me lembro! Foi o ano da primeira visita. Tu levaste um baita d’um susto!

- Também né, onde já se viu? Parece assombração.

- Mas eu não venho te assombrar, Melzinha... Ao contrário, é pra dar uma luz e ter certeza que tu estás no caminho certo.

- Quem dá luz é poste! Ou mãe...

- Há-Há. Nossa, que piada mais velha. Parece você: 20 anos! Eras, é bom que tu tenhas um prato bem recheado de novidades para me oferecer.

- Ih, tá difícil. Assim, não é que o ano não tenha sido produtivo. Ao contrário: minha psicóloga diz que houve muito progresso; a astróloga falou até do fechamento de um ciclo, e a passagem para o conhecimento interior... Parece que júpiter ia entrar em órbita com Vênus, regido por Saturno.

- Nossa, quanto blábláblá, hein? Quero saber se tu conseguiste fazer aquela bola de hum metro de Bubbaloo.

- Ah! Mas já faz uns três anos que eu te disse que não ia dar. Cê sabe que a Lulu falou que um Bubbaloo equivale a uma refeição inteira... Aí não dá, né?! Tenho que ficar de olho no peso.

- Nossa, não acredito! Mas é verdade, eu reparei que tu deste uma engordadinha nesses anos. Parece que todos aqueles sucos sem açúcar, quilos de legume e arroz integral não ajudaram muito. O que o papai acha disso?

- Ele não se conforma, né! Morre de raiva. Mas eu acho é bem feito... Se ele tivesse deixado ter refrigerante nos meus aniversários, não ia ter criado todo esse prazer pelo proibido. Mas não: só deixava entrar aqueles guaranás Globo. Eca.

- É... mas pelo menos casadinho sempre tinha, que a vovó trazia. Aliás, falando em aniversário, e a festa da pequena sereia, quando é que sai?

- Ah, você só pensa em coisas de criança! Mas pra falar a verdade, esse ano ela sai. Eu até comprei as coisinhas: tem chapeuzinho, brinde, docinhos, pipoca, cachorro quente...

- Puxa, que divertido. Pena que eu não possa ficar... E o que mais tu me contas? E a coleção de selos? O medo de altura? Aquele pé de laranja lima? A criação de feijões? A bolsa amarela? O pacto das amigas para sempre? A coletânea de Legião Urbana e Chico Buarque? As listas dos mil mais e mil menos?

- É, na verdade eu dei uma pausa nessas histórias daí.

- Égua! Por quê?

- É que não dá tempo, tem muita coisa pra fazer...

- Que desculpa mais esfarrapada!

- Ah, e você por um acaso tem a mínima idéia de como é acordar todo dia cedo, dormir tarde, e não conseguir esquecer das contas pra pagar, dos trabalhos pra entregar, dos livros pra ler, das dietas pra seguir, dos amores pra esquecer e da família pra amar?

- ...

- É óbvio que não sabe! Com cinco anos a única coisa que você consegue é cortar a franja no meio da testa e fazer papel de ridícula na frente de todo mundo. Ou então quebrar o vaso, remendar com fita durex, e achar que o papai nunca ia reparar.

- Aí é que tu te enganas. Es tu quem não sabes nada. Eu pelo menos sabia ser feliz: tu pareces ter te esquecido. E se fores esperar teres três vezes 20 anos pra aproveitar a vida e realizar aqueles sonhos de moleca... Já não vais mais ter nem os sonhos, nem a moleca dentro de ti.

- Impossível, posso ter apenas duas décadas, mas tenho todo o sentimento do mundo.

- Sentimento não é igual lamento.

- Nem risada igual à felicidade.

- É Verdade. E agora?

- Bom, das duas uma: ou eu rio menos, ou eu choro mais.

- Não! Chore mais e ria mais. Sonhe mais, realize menos. Pense menos, devaneie mais. Seja, ao invés de querer ser.

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
miloka disse...

muito, muito, muito lindo!!
amei...=]
muito de ti, muito de cada um de nós..
como é bom refletir sobre a vida..
ver que se está fazendo tudo o que pode e o que não pode, e ainda assim está fazendo sempre tudo ao contrário..
mas é a vida, a nossa vida..e todo mundo teçe a vida assim, igualzinho...e no fim das contas, é feliz não é?

um beijo para a minha sonhadora revolucionária de sempre!