[Faço entrada tradicional, com cambalhotas, queda da bicicleta, e truque do lenço que puxa a cueca de fora.]
PALHAÇO DECADENTE - Não tão respeitável público! Dizem que os incomodados é que devem se retirar, mas o que é um palhaço sem seu público? Um Bochecha sem seu Claudinho: sou eu assim sem vocês. [Levo o dedo à boca, mostrando o nojo que tenho dessas coisas]
Dizem também que água mole, em pedra dura, tanto bate até que fura. E vocês, fantoches da Zorra Total, transformaram meu pobre coração em uma pedra velha e carcomida. [Voz de descaso] “Foi sem querer querendo”, vocês irão dizer. Sem querer minha presença, e querendo minha morte, digo eu.
Querer nem sempre é poder. Eu, por exemplo, queria ficar neste ingrato picadeiro, mas não posso. Que farei eu agora, a cada manhã, sem o doce cheiro de bosta de elefante? [Cara de nojo para o fedor] Sem o bafo da onça e da bailarina? Sem pêlo de mulher barbada em minha marmita?
À noite, meu dia terá sido incompleto, sem o choro desses pentelhos catarrentos, sem as tortas na cara e, principalmente, sem vossos [Expressão de desconfiança] escassos– porém sempre gratificantes – aplausos. Sim, porque de gratificação, só os aplausos, pois salário já tem pra mais de ano que não sinto o cheiro, nem vejo a cor. Sinto só a fome, o frio e a dor.
E com dor me despeço. Do Circo, e portanto, [pausa com olhar panorâmico e profundo sobre a platéia] da vida.
[Morte simbólica com arminha d’água que atiro sobre mim.]
Por Mel Bleil Gallo e Cecília Alvares Côrrea
2 comentários:
Adorei o o texto de vcs! Sou estudante de Comunicação e gostaria de usar o texto de vcs em um trabalho da faculdade. Posso??? Não se preocupem que será devidamente creditado. Obrigada desde já.
Espero contato no gelzinha_89@hotmail.com
A internet, depois de anos ainda vagando pela imensidão, é cada surpresa... bom texto, parabens
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