Desde os nove anos me entendo por “ser pensante”. Antes mesmo de “ser humano”, “ser místico” ou “ser social”. Foi Pedro Bahia o responsável por essa – não tão bendita – conscientização.
- “A gente não consegue parar de pensar nunca!” ele falou, como se tivesse feito a maior descoberta de sua nada longa existência.
- “Lógico que consegue!”
- “Lógico que não! Quer ver? Tenta parar de pensar”.
Contudo, a não ser que você tenha atingido o Nirvana ou outra forma de profundo controle mental, percebe a impossibilidade de imediato. Involuntariamente começa a pensar em como não pensar e se pega pensando “eu não posso pensar, eu não vou pensar, agora – por exemplo – eu não estou pensando! Quer dizer, se eu acabei de dizer isso, na verdade estou... e agora?”
Apesar de desesperador, tal constatação me fez pensar nos meus pensamentos. Até então, nem sequer pensava neles, simplesmente pensava. A partir daquele momento, porém, sempre que pensava tentava entender porque assim pensava. Mas a própria forma como se dava a reflexão sobre o porquê de pensar daquela maneira desencadeava outro pensamento sobre o pensar.
Entrava então em um estado de profunda agonia, até conseguir me esquecer de lembrar de pensar naquele ato de pensar. Enquanto não me esquecia, tentava analisar criticamente os pensamentos. Por que pensava daquele jeito? Por que pensava aquilo? Como não pensar aquilo daquele jeito?
Por vezes era autoconfrontada a pensamentos incômodos, os quais eu mesma julgava irem de encontro ao que acreditava ser certo pensar. Pensava então: o que faz algo ser certo de pensar? Intuitivamente sabia serem valores intrínsecos a mim – e que poderiam revelar-se fajutos eventualmente – os quais me guiavam naquela direção. Estava iniciada a crise de identidade: até que ponto minha forma de pensar era mais correta que alguma alheia, e por que eu cismava em me achar mais correta, ainda que não quisesse achá-lo.
Sempre soube – talvez não desde os nove anos, mas há um bom tempo – que valores pessoais, morais ou institucionais não são parâmetro para se julgar uma ou outra forma de pensamento. Mas caía (e ainda caio, me estatelo na verdade!) no dilema: ainda que respeite outras visões, como respeitar inclusive aquelas que rechaçam as minhas? Ou ainda às vezes, por que respeitá-las? É possível respeitar a liberdade e propriedade intelectual daqueles que lhe desrespeitam?
Poderia dizer que sim, mas penso que não. Apesar de algo me dizer que deveria pensar que sim. É muito difícil achar limites para máximas como “respeito é fundamental”, ainda mais sem cair no velho conto da carochinha “sua liberdade termina onde a minha começa”. É bonito, bonito – porém falso. Dentro de minha mente me pego pedindo para acreditar que devo respeitar e aceitar, mas sinto como se na realidade isso não passasse do medíocre pensamento: “coitadinhos, eles não conseguem ver o mundo de verdade”.
Não seria eu a coitadinha, julgando ver o mundo de verdade? Meu ego diz que não, minha consciência diz que sim. E eu penso que ainda pensarei na minha forma de pensar nisso por muito, muito, tempo.
Um comentário:
A gente tem que pensar que sabe a verdade sempre. Mas temos que ter a humildade de aceitar quando ela se prova falha e aceitar as verdades de outros quando essas se mostrarem mais coerentes de acordo com os príncipios de cada um.
E que bom que nós estamos sempre mudando de verdades. Afinal, se existisse verdade absoluta, Raul Seixas seria um mentiroso ^^
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