Um pouquinho de caos não faz mal a ninguém.
Ao contrário, se não sairmos às ruas, esbarrarmos nas pessoas, ouvirmos ruídos, sentirmos o dia-a-dia alheio e gostarmos, corremos o risco de nos tornarmos verdadeiros alheios.
Alheios sem sal nem simpatia. Alheios de olhar perdido. Alheios que dirigem seus carros mecanicamente, sem nunca ter sentido a dor no calo de andar a pé, ou o abafado e mal-cheiroso ônibus das 18h30, onde todos suados levantam seus braços para se segurarem no ferro.
Alheios que não apreciam o vento no rosto, o cheiro da padaria, a beleza de uma galeria de arte em meio à confusão das pichações. Que não refletem sobre o cansaço alheio, ao entrarem em um metrô e encararem aquelas rugas saltantes aos olhos do indíviduo à frente.
Concordo que nada melhor que acordar com o som dos passarinhos, e dormir ouvindo a cachoeira. Mas nada pior que esquecer o que é ser gente, em meio à gente.
Por isso troco a Brasília plana de Niemeyer, pelo Rio das esquinas e morros.
Mas só por um tempinho.
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